A advogada paulistana Mônica Maia, 48, alimentou uma paixão durante 13 anos por um rapaz que conheceu durante uma viagem de férias. Quando o sentimento surgiu, ela tinha apenas 15 anos.
"Durante o curto intervalo de tempo em que convivemos nada foi dito ou consumado. Mas mantivemos contato por meio de cartas carregadas de romantismo, o suficiente para me fazer mergulhar de cabeça na fantasia", diz.
Depois disso, ele foi morar fora do país e só deu notícias após dois anos, quando enviou uma carta a Mônica. Quando o rapaz voltou ao Brasil, a advogada decidiu encarar a situação.
"Cansei daquela indefinição, daquele jogo de sedução doentio de ambas as partes, porque não conseguíamos nos desvencilhar desse vício que se arrastava por tantos anos", diz ela.
A esperada primeira vez do casal não foi tão parecida com aquelas de novela. "Foi apenas um protocolo que devia ser cumprido para fechar um ciclo. Sem a ilusão, enxerguei que meu príncipe era um sapo. Aquela beleza que me hipnotizava escondia uma pessoa vazia, sem encantos", afirma.
Os amores platônicos são comuns na adolescência e fazem parte do processo de formação, segundo o psiquiatra Raphael Boechat, professor na área de psiquiatria da Universidade de Brasília (UnB). Mas o quadro deve despertar atenção se a pessoa chegar à fase adulta cultivando paixões não reais, pois isso pode trazer prejuízos e sofrimento.
De acordo com Boechat, há alguns tipos de pessoas que são mais propensas ao amor platônico. "Pessoas com dificuldade de se relacionar, que vivem mais isoladas, têm excesso de timidez e baixa autoestima, por exemplo, podem sofrer mais de amores secretos.
O empresário santista Felipe Oliveira, 25, tem a certeza de que uma amiga de faculdade é a mulher da sua vida. Há sete anos, o rapaz é apaixonado pela amiga, que sabe sobre o amor, mas não lhe corresponde. "Estou me guardando [sexualmente] para ela. No fundo, acho que ela gosta de mim e por algum motivo ainda não decidiu me dar uma chance", afirma.
Além de nunca ter dito que Felipe teria chances, a amada mora em outra cidade e pouco fala com o rapaz. "Pode ser que chegue um momento em que resolva dar um basta, mas também pode ser para sempre", diz.
Para o psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker, professor livre docente do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), há platônicos incuráveis, que passam a vida tentando encontrar aquilo que eles têm apenas no plano das ideias.
"O amor é estruturalmente constituído por enganos, descobertas, revelações e reconciliações. Ele é uma história, e não apenas um sentimento fixo que temos dentro de nós mesmos", afirma Dunker.
Segundo Dunker, existe um quadro patológico denominado erotomania, na qual a pessoa tem a convicção inabalável de que o outro a ama, mas não pode revelar seus verdadeiros sentimentos.
"É uma forma de negar o ‘real do desencontro amoroso’", diz o psicanalista.
Para a psicóloga Denise Gimenez Ramos, professora titular na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não vale a pena perder tanto tempo sem se relacionar direito com alguém.
"Cultivar um amor platônico é viver em um mundo de fantasia. A pessoa imagina o que quer. No universo de faz de conta, a pessoa não sofre, mas também não vive. Ou seja, não aproveita a relação a dois", diz Denise.
De acordo com a psicóloga, a psicoterapia é o melhor caminho para resolver o problema, independente de sua origem. "Sempre é possível uma transformação. O que não pode é se apaixonar pelo irreal", afirma.
A advogada Mônica (aquela que passou 13 anos apaixonada platonicamente por um rapaz) recorreu à terapia para conseguir driblar esse sentimento. "Foi o que me deu coragem para desatar o nó que me prendia ao passado", diz.
(fonte)
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