Medo, dor, sofrimento, angústia, tristeza e até mesmo alegrias. Existem momentos na vida em que o ser humano sente a necessidade de compartilhar com alguém, mas nem sempre pode contar com uma pessoa disposta a ouvir, sem fazer críticas, sem interferir, garantindo sigilo absoluto e, o melhor, sem cobrar nada por isso. Encontrar alguém assim num momento em que o mundo parece estar contra todos pode parecer impossível, mas não é. Em João Pessoa, há 24 anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é um desses portos seguros onde é possível desabafar, conversar anonimamente para se sentir um pouco melhor, sem medo de se expor.
Atendentes recebem ligações diárias e se prestam a ouvir os mais necessitados. Foto: Fabyana Mota/ON/D.A. Press - 15/12/10 Entre os objetivos do programa, um dos mais importantes é a prevenção do suicídio. A coordenadora geral do Samaritano de João Pessoa, integrado ao CVV, Celiana Waldeck, afirma que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o suicídio está entre as três maiores causas de morte violenta de pessoas entre 15 a 24 anos e idosos acima de 75 anos, superando os homicídios e as guerras. A perspectiva para o futuro é desanimadora. Até o ano de 2020, projeta-se que um milhão e meio de pessoas vão se suicidar por ano no mundo se não receberem apoio emocional. As cerca de 600 chamadas registradas a cada mês mostram que muitos querem fugir dessa estatística, mesmo que os apoios efetivos, ou seja, as chamadas em que a pessoa está realmente necessitando de ajuda representem apenas 30% desse total. As demais são informações sobre o trabalho, enganos, recados, entre outras.
´No CVV, as pessoas podem falam sobre o que lhes causa sofrimento, seja solidão, depressão, tristeza, conflitos familiares, perdas em geral como luto, separação e até mesmo vitórias e conquistas que a pessoa não consegue compartilhar com alguém. Nas situações mais difíceis, podemos colaborar, apenas ouvindo quem nos procura, com a meta maior de evitar o suicídio. Às vezes, as pessoas ligam com essa ideia na cabeça, mas depois de conversar, repensam a decisão`. Ela acrescenta, no entanto, que o CVV não realiza um trabalho diretivo, ou seja, não há aconselhamento e nem direcionamento. Na maioria dos casos, ao desabafar, a pessoa que procura o serviço consegue enxergar a saída para seu problema.
A dona de casa Marta Vasconcellos, 40, passava por um período difícil no relacionamento com o companheiro, com quem vivia há quatro meses. Em casa, cercada pelo sofrimento e pela solidão, ela não teve dúvidas em ligar para o CVV. ´Eu estava numa situação muito complicada. Ficava sozinha a maior parte do tempo. Me sentia humilhada, desprezada e não queria envolver minha família. Por isso, preferi buscar o serviço. Foi muito bom, desabafei, me abri. Foi um alívio`, garante.