A hora de medicar os filhos pode ser um momento de muita tensão para os pais. Além de as crianças, geralmente, não gostarem de tomar remédio, muitos adultos têm dificuldade para dar a dose adequada. Para evitar subdosagem ou superdosagem, pediatras recomendam a troca de medidas caseiras, como colheres, e dos copos medidores, disponíveis em alguns medicamentos, pela seringa, que é a forma mais precisa para administrar as substâncias.
Com o aumento de casos de intoxicação por medicamentos nos Estados Unidos, a AAP (Academia Americana de Pediatria) criou uma diretriz sobre o tema que estabelece que os médicos adotem o sistema métrico em mililitros (ml) para a prescrição. A organização defende o uso de seringas que tenham essa graduação.
No Brasil, segundo Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), o órgão responsável por normatizar a presença dos dosadores nos medicamentos vendidos é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
“Por enquanto, não há uma lei, mas a indústria farmacêutica tem colocado a seringa dosadora em remédios em que a precisão da dose é fundamental. A SBP recomendou e orientou a Anvisa para que a seringa passe a vir com todos os remédios, mas isso ainda não foi normatizado”, declara Fernandes.
Apesar de inadequado, Lucilia Faria, pediatra do corpo clinico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, afirma que, ainda hoje, há pediatras que prescrevem, na receita, algumas medidas caseiras, “como uma colher de sopa de xarope”.
Como cada faqueiro tem proporções diferentes, o risco de dar remédio a mais ou a menos para a criança é grande. “Caso o médico faça uma receita com medidas caseiras, os pais devem solicitar, na mesma hora, que o profissional prescreva a quantidade em mililitro”, fala Lucilia.
Os copos medidores também apresentam problemas de precisão da dose, já que as marcas com as graduações são muito pequenas e difíceis de enxergar. “Eles também oferecem riscos de ferimentos na boca da criança e podem ser engolidos”, afirma Fernandes. O pediatra Moises Chenchinski aponta outra desvantagem do acessório: a criança pode derrubar parte do medicamento ou cuspir.
Além de mais precisa, a seringa, por sua vez, é mais fácil de ser manejada pelo adulto. “Os pais devem colocá-la na lateral da boca da criança e pressionar o êmbolo aos poucos, pois um volume grande do líquido pode provocar engasgo”, explica a pediatra Lucilia.
Caso o medicamento prescrito pelo médico não venha com seringa dosadora, Chencinski orienta que os pais comprem uma. “É importante que seja um produto com selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e aprovado pela Anvisa”, afirma.
Superdosagem
Segundos os últimos dados do Sintox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas) da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), os medicamentos são responsáveis por 27% dos casos de intoxicação no Brasil. O grupo populacional mais atingido são as crianças entre zero a quatro anos, sendo que 30% dos casos registrados ocorreram nessa faixa etária.
“A principal causa de intoxicação foi erro na hora de administrar os remédios. Foram 2.022 casos de erro de administração em um ano, mais de 5,5 casos por dia”, afirma Chencinski.
Os sintomas mais frequentes da medicação em excesso são vômitos, dores abdominais intensas, dificuldade para respirar, suor excessivo, perda da consciência e diarreia. Fernandes também diz que, em alguns casos, podem aparecer queimaduras em volta da boca, na língua ou no tubo digestivo.
“O socorro deve ser realizado imediatamente e os pais não devem induzir vômito, caso a criança esteja desacordada. Os adultos não devem dar nada para a vítima beber, no entanto, caso a boca ou a língua apresentem queimaduras, eles podem passar água ou leite frio. Também devem prestar atenção à respiração da criança e levá-la imediatamente ao hospital. Se possível, é válido levar a embalagem do medicamento ingerido e uma amostra do vômito”, declara o presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP.
No hospital, segundo Lucilia, os médicos verificarão se a dose que a criança tomou foi tóxica. “O médico calcula uma dose terapêutica do remédio na hora de prescrever. Às vezes, a criança pode ter tomado uma dose superior à que foi indicada, mas não necessariamente tóxica.”
Se é constatado que houve superdosagem, a criança permanece internada no hospital para passar por uma lavagem gástrica para retirar a substância ingerida da corrente sanguínea. “Quando o medicamento tomado em excesso possui um antagonista (droga capaz de anular seu efeito), ministramos esse produto e tratamos os efeitos colaterais e adversos da medicação”, afirma a pediatra do corpo clinico do Hospital Sírio-Libanês.
No entanto, não são todos os remédios que possuem um antagonista. Nesse caso, é preciso acompanhar de perto. “A criança permanece na UTI com um aparelho para ajudar na respiração, além de tomar muito líquido para eliminar o medicamento até que os efeitos passem”, fala Lucilia.
Dar a dosagem do remédio abaixo do indicado também pode levar a problemas. “No caso de antibióticos, por exemplo, uma dose abaixo da recomendada não vai tratar a bactéria da forma adequada e a criança terá risco de infecção, além de as bactérias do corpo dela adquirirem resistência ao medicamento”, afirma Lucilia.
Fonte:
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