Engenheiro electrotécnico de 49 anos coordena a "Voz de Apoio", uma linha telefónica destinada a prevenir o suicídio, sobretudo, nas cadeias portuguesas. Há dez anos que duas dezenas de voluntários ouvem confidências e, em troca, oferecem uma palavra amiga.
Casado, sem filhos, Fernando Couto era mais novo 15 anos, quando um programa de rádio lhe despertou a atenção para o voluntariado. Um ouvinte, emocionalmente fragilizado, desabafava todas as mágoas no éter. "Ouvi o programa e decidi que poderia ajudar pessoas", recorda. Daí a inscrever-se como voluntário foi um passo, até que, há uma década, este engenheiro, profissionalmente ligado ao sector das telecomunicações, decidiu reunir um grupo de voluntários. Instalou-se numa cave, na cidade do Porto, onde recebe chamadas telefónicas, cartas e e-mails de pessoas ávidas de uma palavra amiga.
"O nosso objectivo é, sobretudo, prevenir o suicídio que ocorre nas cadeias portuguesas. Sabemos que o número de suicídios é dez a quinze vezes superior nas cadeias, face à população em geral. É o grupo de maior risco", afirma Fernando Couto.
A missão da "Voz de Apoio" divide-se, portanto, em duas vertentes: uma destinada exclusivamente à comunidade prisional e a outra ao público em geral.
Apoiada pela Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, a "Voz de Apoio" tem ao dispor um número verde de apoio à prevenção do suicídio, apenas divulgado dentro das cadeias, enquanto que a linha de atendimento emocional, destinada ao público em geral, pode e dever ser divulgada: 225506070.
"Além da linha verde, recebemos muitas cartas dos reclusos. A maioria deles gosta de escrever porque não têm acesso à Internet", explica.
A equipa de voluntários responde a todas as cartas e, explica Fernando Couto, a maioria das lamentações dos reclusos diz respeito a situações de solidão. "Não há queixas em relação ao sistema prisional; o que há são situações ligadas ao sentimento de estar preso, à solidão e aos problemas com a família", frisa. "Uma das situações mais típicas envolve presos com penas longas, porque as famílias têm tendência para os abandonar, e isso constitui para eles muito sofrimento", explica.
Fernando Couto não se queixa da falta de voluntários, mas não é possível funcionar 24 horas seguidas. "Adaptamos o horário de atendimento aos horários dos reclusos", sustenta.
por José Vinha
Fonte: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1682700