E há remédio? Existe, há muito tempo...
Sintomas e tratamentos

E há remédio? Existe, há muito tempo...


O título acima é uma brincadeira com as palavras, para conscientemente chamar a tua atenção para o artigo abaixo, no qual destaco em cores a parte que se relaciona à questão da prevenção do suicídio.  O artigo, como um todo, no entanto, é muito importante para  todos nós - pacientes, médicos e estudiosos da saúde mental e áreas conexas (e os cidadãos em geral, evidentemente!)

Velhos remédios podem ser mais eficientes que novidades
25 de maio de 2009 

Dr. Richard A. Friedman

Recentemente, um dos residentes que supervisiono me contou sobre uma paciente de distúrbio bipolar cujo psiquiatra havia descrito um exótico coquetel de medicamentos, misturando um sedativo, um novo estabilizar de humor e o mais recente antipsicótico.

Fiquei intrigado - não pelo caso da paciente, descrito pelo residente como um exemplo clássico de psicose maníaco-depressiva, mas pelo que a história não revelava. Ao que parece, ninguém havia oferecido a essa paciente o uso de lítio, o tratamento isolado mais efetivo contra o distúrbio bipolar.

Quando me reuni com os residentes para seu seminário semanal, decidi que destacaria esse caso. Perguntei a eles qual era sua opinião sobre o tratamento daquela paciente.

Houve um longo silêncio. Um deles terminou por perguntar o que havia de errado com a prescrição. Por fim, um residente afirmou que sabia que o lítio era a resposta correta para o problema, mas que tratamentos mais novos são mais populares.

E foi assim que compreendi. Pouco importa que o lítio tenha provado sua segurança e eficácia ao longo de décadas de uso; ele se tornou antiquado, eclipsado por medicamentos mais novos e mais atraentes.

Os sais de lítio vêm sendo usados para combater o distúrbio bipolar desde os anos 50, quando foi descoberto que reduziam fortemente a intensidade e frequência das viradas de ânimo em cerca de 70% dos pacientes do problema. Embora o lítio deva ser usado com cuidado - ele só tem uso terapêutico em uma gama estreita de níveis sanguíneos e dosagens excessivas podem ter efeitos tóxicos -, também já ficou comprovado que é o único medicamento psicotrópico a ter efeitos especiais de prevenção do suicídio. Isso o torna especialmente útil, dado o risco elevado de suicídio associado aos distúrbios de alternância de humor.

Mas o lítio é barato e não é protegido por patentes, e por isso os laboratórios farmacêuticos pouco se interessam por ele. Em lugar disso, produziram uma nova geração de estabilizadores de humor, alguns dos quais mais toleráveis que o lítio, embora nenhum mais efetivo.

E o lítio dificilmente está sozinho na posição de medicamento efetivo mas não muito atraente a perder prestígio sem motivo. Os novos tratamentos médicos são como a famosa nova vizinha: eles têm atrativos aos quais parece difícil resistir.

Médicos e pacientes são alvo de pesado marketing da parte das companhias farmacêuticas. Elas gostam de dizer que seu interesse é educar o público e os médicos sobre as diferentes doenças, mas até hoje nunca encontrei um paciente que houvesse aprendido algo de realmente informativo sobre uma doença em um anúncio.

Em lugar disso, recebo dezenas de pacientes em meu consultório ávidos por receber o mais novo antidepressivo ou estabilizador de humor, com base em promessas televisivas de tranquilidade.

Não deveria surpreender: as companhias de medicamentos ampliaram em 330% seu investimento em publicidade veiculada diretamente ao consumidor, entre 1995 e 2005, de acordo com um estudo publicado em 2007 pelo New England Journal of Medicine.

Ao contrário do público mais amplo, os médicos continuam a se acreditar imunes à influência dos fabricantes de medicamentos, a despeito de fortes indicação em contrário. Estudos demonstraram que médicos conectados ao setor farmacêutico se inclinam mais a receitas remédios de marca, de preferência aos genéricos mais baratos, quando comparados a médicos que não tenham vínculos com os laboratórios farmacêuticos.

Isso não significa que toda forma de influência seja negativa. Caso um novo remédio de fato se prove mais seguro ou efetivo que seus predecessores, evidentemente deveria ser receitado a todos aqueles que poderiam se beneficiar dele.

Muito frequentemente, porém, a nova panacéia nada mais é do que um remédio "eu também", ou seja, uma pequena modificação de um remédio já disponível, que oferece pouca ou nenhuma vantagem em termos de segurança ou eficácia.

Não muito tempo atrás, atendi uma paciente que me disse sofrer de depressão resistente a tratamento. Ela não havia reagido a testes com cinco novos antidepressivos. Liguei para o psiquiatra responsável, e perguntei se ele havia por acaso receitado à paciente algum dos antidepressivos mais antigos. Por ter pouca experiência com esses remédios, ele não o havia feito.

Sugeri que a paciente experimentasse um medicamento MAOI, um dos métodos tradicionais de tratamento do problema. Em seis semanas, ela mostrava sinais notáveis de melhora.

Pode bem ser verdade que os antidepressivos mais modernos sejam mais seguros e toleráveis, mas eles não são mais efetivos do que os antidepressivos mais antigos. E os médicos deveriam saber se os novos medicamentos são capazes de superar em eficiência os tratamentos mais antigos, exatamente o objetivo de uma proposta do presidente Obama quanto a pesquisas de comparação de eficiência.

Como era de esperar, a idéia vem sendo criticada por fabricantes de remédios e equipamentos médicos, que temem que seus produtos moderníssimos se provem menos eficientes do que remédios mais antiquados.

Não sei quando a vocês, mas eu pessoalmente não hesitaria jamais em optar por um medicamento antigo, com um histórico conhecido de eficiência e segurança, de preferência a um produto recém-chegado ao mercado, dispendioso e incapaz de oferecer vantagens adicionais com relação ao método supostamente antiquado.

Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times

Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3785526-EI8147,00.html



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