Sintomas e tratamentos
Hipnose: os benefícios dessa técnica na gravidez e no trabalho de parto
Esqueça aquela imagem dos desenhos animados de um indivíduo sendo hipnotizado com um relógio e ficando, assim, totalmente alheio ao que está acontecendo à sua volta - isso não é hipnose. "Ela é um estado modificado de consciência e não um tipo de sono, como se acreditava", esclarece o mestre em obstetrícia Osmar Ribeiro Colás, coordenador do grupo de estudos de hipnose da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A pessoa hipnotizada não está, portanto, inconsciente, mas em um modo de profundo relaxamento.
Por meio da hipnose, é possível tratar diversos problemas. "Ela é muito usada para ir direto ao trauma de pacientes com fobias, por exemplo. Também está indicada para aqueles com dores crônicas", exemplifica o médico psiquiatra João Jorge Cabral, presidente da Associação Brasileira de Hipnose. Entre os casos com recomendação para usufruir dos benefícios dessa técnica milenar estão as gestantes.
E não pense que isso é novidade no mundo da ciência. Em entrevista à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Colás conta que, já no século XIX, especialistas europeus observavam a ação da hipnose no alívio das dores do parto. Ao longo do tempo, esse recurso foi sendo estudado, de forma que, em 1951, o francês Fernand Lamaze criou um método que se caracterizava por preparar a mulher antes de dar à luz a partir de orientações gerais sobre posturas, técnicas de respiração e relaxamento com hipnose. O objetivo era que o nascimento da criança ocorresse sem medo e sem dor.
Embora mais estudos tenham sido feitos para investigar a fundo esse benefício, o tratamento desenvolvido por Lamaze ainda é usado para essa finalidade. A vantagem é que, hoje, sabe-se que a hipnose não é indicada apenas para a hora do parto, mas antes e depois dele também.
Os benefícios
Antes mesmo de gerar um filho, a mulher consegue tirar proveito da hipnose. "A gente pode usá-la para diminuir ou modificar todas as ansiedades ligadas à gravidez, como o medo de engravidar e de morrer na hora do parto", conta Osmar Colás, que também é membro do departamento de obstetrícia da Unifesp. Durante a gestação, o método está indicado para aliviar sintomas como enjoos e dores de cabeça e nas costas.
No entanto, o que muitas mamães ainda não sabem é que a hipnose também é recomendada para modificar a percepção das contrações, alterando a forma como a gestante sente a dor durante o trabalho de parto. "Uma dor aguda pode ser percebida como uma sensação de peso ou de dormência", explica o médico da Unifesp. Além disso, ao longo do tratamento, a mulher aprende com o especialista em hipnose técnicas de respiração e relaxamento que vão permitir que ela entre nesse estado alterado de consciência. Mas o que vai garantir que ela consiga focar a sua atenção em pensamentos positivos na hora do nascimento é a sua imaginação. "Eu peço para ela imaginar, por exemplo, que o bebê está sorrindo e agradecendo por ela estar respirando adequadamente e contribuindo para que ele consiga passar pelo canal vaginal de uma maneira mais suave", relata Osmar Colás, que também faz parte da Comissão de Violência Sexual e Abortamento Previsto em Lei da Febrasgo.
Somando todos esses fatores (menos dor, relaxamento, respiração e imaginação), o resultado é um parto mais tranquilo. "A hipnose não irá de maneira nenhuma fazer a paciente se desligar do processo, ao contrário, ela irá participar muito mais intensamente do que faria caso estivesse amedrontada, insegura e com dor descontrolada", esclarece Colás. Aliás, dependendo da sensibilidade da mulher para a dor, ela pode nem precisar de anestesia se estiver sob hipnose. "A quantidade de remédio administrado diminui em até 70% e a necessidade de anestesia é reduzida em 50%", calcula o médico da Unifesp.
Baby Blues
Devido à queda dos hormônios femininos depois do nascimento do bebê, é comum que as mulheres passem pelo chamado Baby Blues, um estado de melancolia que dura de 15 a 20 dias após o parto. "Existem estudos mostrando que as pacientes que fazem qualquer técnica de preparo psicoprofilático, como a hipnose, têm 70% menos risco de desenvolver esse problema", informa Colás. Isso ocorre porque essas terapias modulam os estados emocionais, evitando o desequilíbrio.
A hipnoterapia
Para conseguir tirar proveito de todos esses benefícios da hipnose é preciso muito treinamento. Osmar Colás chama esse preparo de "condicionamento psicofisiológico para o parto" - que pode ser feito em qualquer fase da gravidez. Esse processo inclui informações sobre a fisiologia do parto e das contrações, as dores, os tipos de posição e de respiração que devem ser aplicadas em cada período do nascimento (dilatação, expulsão e dequitação, que é a saída da placenta), bem como as técnicas de relaxamento apropriadas para essas diferentes etapas.
Além disso, recursos hipnóticos são usados para que a paciente consiga entrar em um estado de tranquilidade e serenidade profundas. "Existe também um momento em que se faz uma experiência chamada projeção, na qual se vive o dia seguinte ao parto, já com o bebê. O objetivo é plantar na gestante a vivência positiva", relata o obstetra.
Tudo isso é passado para a futura mamãe ao longo de oito sessões, que duram, em média, dois meses. Mas entre cada encontro com o hipnólogo e depois do tratamento é fundamental que a mulher pratique em casa. Isso porque a ideia é que, no parto, ela consiga se focar apenas neste momento e entrar no estado de relaxamento profundo sozinha, sem precisar ser induzida.
Quem consultar
Pacientes com fobias, traumas e inseguranças que exigem atuação em estruturas psicológicas profundas devem ser tratadas por médicos ou psicólogos especialistas em hipnose. Já aquelas que querem usar a técnica apenas para o controle do parto podem ser atendidas por outros profissionais (enfermeiras obstétricas, doulas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, por exemplo), desde que eles tenham treinamento para utilizar os métodos de respiração, relaxamento e psicoeducação.
Vale lembrar que a hipnose é reconhecida e regulamentada pelos conselhos de medicina, psicologia, odontologia e fisioterapia.
Fonte:
http://mdemulher.abril.com.br/saude
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