Sintomas e tratamentos
O luto e o modo saudável de auxiliar os sobreviventes de suicídio
O historiador Arnold Toynbee certa vez escreveu: “existem sempre duas partes na morte; a pessoa que morreu e os que sobreviveram”.
Infelizmente, muitos sobreviventes de suicídio sofrem sozinhos e silenciosamente. O silêncio que os rodeia complica a recuperação e mina suas forças justamente no momento inevitável de se enfrentar o sofrimento.
Por causa do estigma social que cerca o suicídio, os sobreviventes sentem a dor da perda, contudo sem saber como ou se deveriam expressar isso. O único modo de se recuperar, contudo, é vivenciar o sofrimento. Tal como outras pessoas que perderam alguém que amavam, os sobreviventes precisam falar, chorar e às vezes gritar, para se recuperarem.
Por conta do medo de não serem compreendidos, os sobreviventes se sentem frequentemente abandonados quando precisam desesperadamente de apoio incondicional, de pessoas que os entendam.
Os sofrimentos percebidos pelos sobreviventes são multifacetados: a dor da perda da pessoa que faleceu; a experiência de uma morte traumática, súbita, inesperada; a perplexidade, a solidão em face do luto, acrescido do fato de que raras pessoas costumam estar dispostas a compreender-lhes a dor que sentem.
Como se pode ajudar?
Para se ajudar um amigo ou um membro da família que passou pela experiência da morte por suicídio de alguém amado, será apresentado a seguir um guia de como é possível se ter cuidados e preocupações em ações verdadeiramente positivas.
Aceite a intensidade da dor
O sofrimento que se segue a um suicídio é sempre complexa. Os sobreviventes não “superam isso”. Porém, com apoio e compreensão, eles podem se recuperar em face desta realidade.
Não se surpreenda com a intensidade do sofrimento deles. Aceite que eles estão a enfrentar emoções fortes, como a culpa, o medo e a vergonha – sentimentos, todos eles, bem mais intensos que aqueles outros, vivenciados em outros tipos de morte.
Seja paciente, compassivo e compreensivo.
Ouça com o coração
Dar assistência a sobreviventes de suicídio significa buscar romper o silêncio. O auxílio se inicia com a sua disposição de tornar-se um ouvinte ativo.
A sua presença e o seu desejo de escutar sem críticas ou julgamentos são ferramentas preciosas. O desejo de ouvir é a melhor ajuda para quem precisa falar.
Pensamentos e sentimentos do sobrevivente podem assustar e ser difíceis de compreender. Não se preocupe com o que você deve dizer. Concentre-se apenas nas palavras que estão sendo partilhadas.
O seu amigo pode repetir a mesma história sobre a morte vezes sem conta. Ouça atentamente, sem demonstrar enfado. Compreenda que esta repetição faz parte do processo de recuperação do seu amigo. Apenas escute e compreenda. E lembre-se que você não precisa ter as respostas para as perguntas dele. Ouvir é o que basta.
Evite explicações simplistas e frases feitas
Frases feitas (clichês) podem constranger profundamente um sobrevivente de suicídio, seja por tentar amenizar o sentimento de perda, de maneira equivocada, seja por fornecer soluções simplórias para situações muito difíceis.
Não são nada construtivos os comentários como“O tempo curará todas as feridas” ou “Pense nas coisas boas da vida”ou “Você tem que ser forte e pensar nos que ficaram”. Pelo contrário, magoam e tornam o processo do luto mais complicado.
Evite fazer julgamentos ou dar explicações simplistas sobre a ocorrência do suicídio. Não cometa o erro de dizer que a pessoa que se suicidou “não estava consciente; não sabia o que estava fazendo”, pois equivale a dizer que “o ente amado” do sobrevivente estava “louco”, complicando ainda mais a situação.
Os sobreviventes de suicídio precisam de ajuda, mas precisam contar com os seus próprios recursos para tentar entender o que aconteceu. A procura pessoal de significado e compreensão da morte é o que realmente importa.
Seja compassivo
Deixe seu amigo expressar livremente os sentimentos dele sem qualquer receio de crítica. Ouça e busque aprender algo a partir de sua experiência. Não dê instruções ou explicações de como ele deve se comportar. Nunca diga: “Eu sei como você se sente”. Não sabe. Pense no seu papel como alguém que “caminha ao lado”, não “atrás“ ou “à frente”.
Familiarize-se com o imenso conjunto de emoções que os sobreviventes de suicídio experimentam. Permita que o seu amigo sinta todo o sofrimento, tristeza e dor que ele estar experimentando no momento. E reconheça que as lágrimas são a expressão apropriada e natural associada à perda.
Respeite a necessidade do luto
Você, talvez, seja a única pessoa próxima dos sobreviventes. Na condição de amigo atencioso e discreto, faça valer a sua presença e demonstre a disposição de acolher e ouvir, pois este simples gesto é a base para o processo de recuperação. Permita que os sobreviventes se expressem, mas sem forçá-los. Provoque, levemente, a conversação, mas saiba esperar a reação. Aguarde um sinal positivo deles em se expressarem mais abertamente e demonstre estar disposto a partilhar seus pensamentos e sentimentos.
Pode ser a única pessoa que está próximo dos sobreviventes, como amigo atencioso. A sua presença física e o fato de ouvir de forma permissiva podem criar o alicerce para o processo de recuperação. Permita que os sobreviventes falem, mas não os force. Às vezes, pode dar uma sugestão e esperar. Se receber um sinal do que precisam, deixe-os perceberem que está lá para os ouvir, e quando, eles quiserem podem partilhar os seus pensamentos e sentimentos.
Compreenda a singularidade da dor do suicídio
Lembre-se que o sofrimento dos sobreviventes de suicídio é único. Ninguém sente a morte de alguém que amou exatamente da mesma maneira. É possível falar com outras pessoas, que também passaram por situações idênticas, sobre algumas fases semelhantes, mas todas as pessoas são diferentes e passaram por experiências de vida singulares.
Porque a experiência do luto é única, seja paciente. Todo processo do luto tem o seu ritmo próprio;deixe que seu amigo vivencie o seu luto no tempo próprio. Não critique o comportamento dele. Lembre-se que a morte por suicídio de alguém próximo e vinculado afetivamente é uma experiência muito dolorosa. Como resultado dessa morte, a vida do seu amigo se encontra em lenta reconstrução.
Esteja atento aos feriados e datas comemorativas
Para os sobreviventes de suicídio, as ocasiões especiais como os feriados, os aniversários e outras datas comemorativas podem se tornar momentos difíceis. Estas ocasiões enfatizam a ausência da pessoa que faleceu. Respeite essa fase em que tão intensamente se manifesta a dor da perda, previsível nestes momentos ainda marcados pelo processo de luto. Nunca tente diminuir essa dor, seja por que meios.
Referindo-se ao falecido
Use o nome da pessoa que faleceu quando falar com os sobreviventes de suicídio. Ouvir esse nome pode ser reconfortante, pois é um meio de se confirmar que esta pessoa especial, que tanto significou na vida deles, está viva na lembrança de muitos.
Incentivo à participação em um grupo de apoio
Os grupos de apoio ou de ajuda mútua são uma das melhores maneiras de ajudar os sobreviventes de suicídio. Num grupo os sobreviventes podem conversar com pessoas que uma experiência similar. Neste ambiente acolhedor todos se sentem à vontade para contar suas histórias da maneira como se sentem melhor. Ajude um sobrevivente a buscar um grupo de apoio, pois isso lhes fará muito bem.
Respeite a fé e a espiritualidade
Os sobreviventes poderão, em algum momento, comentar sobre seus sentimentos de fé e espiritualidade. Se a fé faz parte da vida deles deixe-os expressar isso da maneira que achar mais correta. Se eles estiverem indignados com Deus, encoraje-os a falar sobre o assunto. Lembre-se que ter raiva, mesmo que dirigida à divindade, demonstra haver um vínculo com o sagrado. Não faça julgamentos, seja um amigo compreensivo e atencioso.
Os sobreviventes podem também questionar a própria religião, por sentirem que a mesma afetou negativamente suas vidas. Pode ter lhes sido ensinado que as pessoas que acabam com a sua própria vida irão parao inferno. A sua tarefa não é debater teologia, mas ouvir e aprender. Em qualquer situaçãoa sua presença e o seu desejo de escutar sem críticas são o meio mais seguro de auxiliar.
Trabalhe em conjunto com pessoas que possam apoiá-los
Os amigos e a família de alguém que se suicidou não deve sofrer sozinhos e em silêncio. Como meio de ajudá-los pode-se tentar juntar outras pessoas, que saibam acolher e ouvir, para que eles atravessem o período de luto e dor bem acompanhados, de modo a amenizar o trauma.
A experiência da dor do luto tem origem no amor que temos pelas pessoas. Os sobreviventes de suicídio passarão por esta experiência e precisam mesmo vivenciar o luto. É importante lembrar, no entanto, que a tarefa de auxiliá-los em sua recuperação não é fácil. Você poderá ter que dispor de mais tempo, de mais carinho e atenção. Mas tudo isso valerá a pena, pode acreditar!
Revisão e adaptação: Abel /Sidney
loading...
-
Os Que Sobrevivem Ao Suicídio De Alguém...
Sobreviventes, família e amigos lidam com a dor Carina
[email protected] Família e amigos também são afetados diretamente pelo autoextermínio. De acordo com a psiquiatra Maria Cristina de Stefano, autora do livro “Suicídio: A Epidemia Calada”,...
-
Grupo De Apoio Aos Sobreviventes Do Suicídio Anônimo - Gassa
Encontros mensais são destinados a quem já tentou suicídio e a familiares de suicidas Estudos apontam que a cada suicídio, cinco ou seis pessoas sofrem consequências emocionais ou sociais que podem causar sequelas pelo resto de suas vidas. Normalmente...
-
Notícia Sobre "sobreviventes De Suicídio"
A notícia abaixo transcrita deveria inspirar os "sobreviventes brasileiros" para que imitem a experiência relatada Grupo de apoio a sobreviventes de suicídio reúne-se no Sport Club Português Leonardo Ferreira - 02/12/2009 Toda a 3ª quinta-feira...
-
Luto: Também Um Tabu...
Questionário ajuda a enfrentar o luto Pesquisadora da UnB cria instrumento para avaliar situação de pessoas que perdem amigos e parentes e conduzir a terapia Agência UnB Enfrentar a morte de uma pessoa querida é uma das provações mais difíceis...
-
Sobreviver Ao Ato Suicida. O Dia Seguinte
A perda de um ente querido pelo suicídio é um acontecimento terrível, doloroso e inesperado. Provoca uma intensa dor, que pode ser prolongada e que será diferente e única para aquele que a sofre. Chama-se “sobrevivente” os familiares e amigos...
Sintomas e tratamentos