Sintomas e tratamentos
Reportagem exemplar sobre a prevenção do suicídio
Três ‘D’s indicam risco de suicídio
Carina Reis
Depressão, desespero e desesperança. Os três ‘D’s apontados pelo psiquiatra e especialista em terapia comportamental, Lucas Gabriel Maltoni Romano, são os principais sintomas apresentados por uma pessoa com pensamentos suicidas. Segundo ele, o ato de tirar a própria vida é desencadeado por uma sequência de fatores.
“Nunca está associado a uma só questão. É a associação da doença mental com uma mudança radical na vida e outros estímulos. É importante, portanto, ficar atento a esse comportamento desesperançoso, desesperado e depressivo”, alerta o médico.
Por ano, quase 12 mil brasileiros cometem suicídio, segundo avaliação apresentada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) na semana passada. Dados mundiais são ainda mais alarmantes: a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida. A perspectiva é que até 2020 um surto de casos faça dobrar a quantidade de suicídios e é isso que os profissionais de saúde mental querem evitar.
Lucas Romano explica que mais de 90% das pessoas que cometeram o autoextermínio sofriam de transtornos mentais. “Depressão é a principal dessas doenças e também a que requer mais cuidado. Uma pessoa depressiva já precisa de atenção redobrada. Na sequência de risco também encontram-se pessoas que sofrem de transtorno bipolar e de esquizofrenia.”
Outro fator que precisa ser levado em consideração é o uso e abuso de substâncias psicoativas. “Drogas e, principalmente, o álcool. Quando associamos depressão e álcool o quadro se agrava e potencializa.”
Especialista em Saúde Mental pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a psicóloga Daniele Muzaiel Gimenez alerta, ainda, para o risco de reincidência na tentativa de suicídio. “O maior fator de risco é a pessoa já ter tentado tirar a própria vida. Isso aumenta consideravelmente a chance de tentar novamente. Um ‘acting out’, ou seja, uma tentativa de suicídio sem êxito é um sinal de alerta para a existência de profundo sofrimento que precisa ser cuidado tanto pela família como por amigos e pela equipe de saúde multidisciplinar.”
De acordo com Daniele, embora a faixa etária mais reincidente no total absoluto de suicídios seja acima dos 65 anos, nos últimos dez anos o percentual entre jovens aumentou em intensidade alarmantemente, mais de 40% entre os brasileiros de 15 a 29 anos. “E as motivações são diferentes em cada idade. O idoso, muitas vezes, por ter sofrido perdas significativas, pode deixar de ver sentido na vida ou se culpa por não querer ser um peso para os familiares. O adolescente, por sua vez, está em busca da construção de sua identidade, questiona princípios e valores sociais, pode apresentar instabilidade de humor e comportamentos impulsivos quando angustiado, diz.
“Temos, ainda, o adulto jovem, aquele com até 30 anos, que também passa por uma fase de transição, deixa a casa dos pais, busca emprego e estabilidade social. A busca por atender padrões sociais faz com que este adulto se depare com faltas inerentes à condição humana, vistas, porém, como fracasso insuportável desperta angústias e profundas cobranças internas e, até mesmo, inconscientes.” avalia a psicóloga.
Todos esses fatores são vistos como possíveis desencadeadores de sofrimento e sintomas. “É a união entre os fatores de risco e as motivações internas que leva a passagem ao ato. Um adulto jovem, por exemplo, que faz uso problemático de álcool, está desempregado, desmotivado, e diz algo como ‘estou sem esperanças’, pode estar fazendo um importante pedido de ajuda.”
Em Jundiaí, o Grupo de Apoio à Vida (GAV) iniciou recentemente uma campanha intensa por ter notado um aumento na quantidade suicídios cometidos na cidade. Três casos foram registrados em apenas um fim de semana de setembro deste ano. “Nós percebemos que aumentou muito e iniciamos uma divulgação em massa do nosso telefone. Nosso trabalho é na prevenção do suicídio por meio de atendimentos telefônicos para ouvir a pessoa que está passando por uma dificuldade e quer desabafar”, comenta Maria Bernadete Carneiro, coordenadora do GAV. Os atendimentos acontecem na Av. dos Ferroviários n° 2222 ou pelo telefone (11) 4521-4141.
Rupturas
Lucas Romano considera particularmente perigosos eventos de rompimento como mudança de status social causada por desemprego e término de relacionamentos. “Mudar o status econômico é um fator grave de risco. A pessoa está acostumada a algo e de repente precisa rever sua vida, seus costumes, seu padrão. Outra situação alarmante é a perda da estabilidade emocional causada por uma separação de casal.”
A psiquiatra Maria Cristina de Stefano acrescenta que familiares e amigos podem estar atentos à mudança emocional das pessoas. “Se for criança ou adolescente, é possível observar um desinteresse na escola, tanto com relação à aula, quanto aos amigos. Passa a dormir muito ou não dormir nada, comer muito ou deixar de comer.” No caso de adultos, outros aspectos são analisados. “Ele passa a faltar no trabalho e não ligar para regras profissionais e sociais. E, principalmente, quando passa a falar que a vida não vale a pena, esse é o momento de oferecer ajuda.”
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