Por: André Lacerda - Psicanalista
Clínica Psicanalítica Ltda-
Rua dos Andradas 904 - conj 33 P.Alegre
O Transtorno de Estress Pós Traumático ou TEPT é uma reação do organismo parecida com a Síndrome do Pânico, porém com uma característica importante:
É uma reação a acontecimento inesperado, ameaçador, imprevisível e traumático, por exemplo:
Combate, seqüestro, prisão, assalto, estupro, acidente, agressão física ou moral, etc.
Um diagnóstico preocupante, um resultado de exame de laboratório que indique doença grave, uma cirurgia difícil, um pós operatório complicado, uma perda financeira ou afetiva, incêndio, inundação, terremoto, combate.
Também pode desenvolver quando a pessoa testemunha ou fica sabendo de uma experiência semelhante que ocorreu com outra pessoa de sua família ou de seu relacionamento.
Sintomas do Estresse pós Traumático:
(Taquicardia, sudorese, falta de ar, tremor, fraqueza nas pernas, ondas de frio ou de calor, tontura, sensação de que o ambiente esta estranho, de que vai desmaiar, de que vai ter um infarto, de uma pressão na cabeça, de que vai "ficar louco", de que vai engasgar com alimentos, assim como crises noturnas de acordar sobressaltado com o coração disparando e com sudorese intensa, diarréias, sintomas de uma Labirintite, pensamentos que não saem da cabeça de que poderiam ter doenças graves mesmo que todos os exames sejam normais ou de que poderiam fazer mal a si mesmo ou a outras pessoas)
mais:
Pesadelos e terrores noturnos relacionados com o evento traumático.
Flash Backs (a pessoa tem a sensação de estar vendo ou vivenciando a mesma situação, como uma cena de filme).
Com o passar do tempo, o paciente de Stress pós Traumático ou TEPT desenvolve um estado depressivo crônico com apatia, irritabilidade, desinteresse, diminuição de memória e culpa.
Algo que lembra a situação desencadeante pode causar ataques de ansiedade.
A pessoa passa a evitar situações que possam lembrar o evento que provocou o Stress pós Traumático.
Diminuição de rendimento escolar e profissional
Isolamento social.
Desesperança com relação a planos de vida de antes do evento traumático.
O que é?
O transtorno de estresse pós-traumático pode ser entendido como a perturbação psíquica decorrente e relacionada a um evento fortemente ameaçador ao próprio paciente ou sendo este apenas testemunha da tragédia.
O transtorno consiste num tipo de recordação que é melhor definido como revivescência pois é muito mais forte que uma simples recordação. Na revivescência além de recordar as imagens o paciente sente como se estivesse vivendo novamente a tragédia com todo o sofrimento que ela causou originalmente. O transtorno então é a recorrência do sofrimento original de um trauma, que além do próprio sofrimento é desencadeante também de alterações neurofisiológicas e mentais.
Diagnóstico
O primeiro aspecto a ser definido é a existência de um evento traumatizante. Aquele suficientemente marcante, não há dúvidas quanto a ser ameaçador à vida ou à integridade individual, como os seqüestros, assaltos violentos, estupros.
Há, contudo certos eventos que podem não ser considerados graves como um acidente de carro sem vítimas. Mesmo assim caso uma pessoa venha a apresentar o quadro de estresse pós-traumático perante uma situação que poderia não ser considerada forte o suficiente para causar danos à maioria das pessoas, pode causar danos para outras.
Com certeza, um evento marcante, fora da rotina, que de alguma forma represente uma ameaça, tem que ter acontecido: sem isso não será possível fazer o diagnóstico, pois a definição dele envolve o evento externo.
Os sintomas têm que estar diretamente relacionados ao evento estressante, as imagens, as recordações e as revivescência têm que ser a respeito do ocorrido e não sobre outros fatos quaisquer ainda que ameaçadores.
Para o diagnóstico é essencial que a pessoa tenha experimentado ou testemunhado um evento traumatizante ou gravemente ameaçador.
Quando esse evento ocorre, é necessário também que a pessoa tenha apresentado uma resposta marcante de medo, desesperança ou horror imediatamente após o evento traumático. Depois disso o indivíduo deve passar a ter recordações vivas, intrusivas (involuntárias e abruptas) do evento, incluindo a recordação do que pensou, sentiu ou percebeu enquanto vivia o evento traumático.
Podem ocorrer pesadelos baseados no tema. Sentir como se o evento fosse acontecer de novo, chegando a comportar-se como se estivesse de fato vivendo de novo o evento traumático. Nesses eventos é possível que o paciente tenha flashbacks ou alucinações com as imagens do evento traumático.
As situações que lembram o evento causam intenso sofrimento e são evitadas. Ter de expor-se novamente ao local pode ser insuportável para o paciente. Por isso o paciente passa a evitar os assuntos que lembrem o evento, como também as conversas, pessoas, objetos e sensações, tudo que se relacione ao trauma.
A recordação dos aspectos essenciais do trauma pode também ser apagada da memória. A pessoa pode afastar-se do convívio social e outras atividades mesmo que não relacionadas ao evento. Pode passar a sentir-se diferente das outras pessoas.
Pode passar a ter dificuldade de sentir determinadas emoções, como se houvesse um embotamento geral dos afetos. Pode passar a encarar as coisas com uma perspectiva de futuro mais restrita, passando a viver como se fosse morrer dentro de poucos anos, sem que exista nenhum motivo para isso.
Outros sintomas podem ser também: insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, respostas exageradas a estímulos normais ou banais.
Para se fazer o diagnóstico é preciso que esses sintomas estejam presentes por no mínimo um mês. Caso o tempo seja inferior a isso não significa que a pessoa não teve nada, só não se pode dar esse diagnóstico.
Certos sintomas não compõem o diagnóstico, mas podem ser encontrados no paciente com estresse pós-traumático como dor de cabeça, problemas gastrintestinais, problemas imunológicos, tonteiras, dores no peito, desconfortos.
Considerações
O transtorno de estresse pós-traumático é provavelmente um transtorno muito comum, porém pouco conhecido, como nas décadas passadas foram desconhecidos porém freqüentes os transtornos de pânico, fobia social, obsessivo compulsivo.
O estresse pós-traumático se diferencia dos demais transtornos de ansiedade e da maioria dos transtornos mentais por ser causado a partir de um fator externo.
O aparato mental do homem é capaz de lidar com situações estressantes sem que isso deixe cicatrizes, da mesma forma que os vasos sanguíneos são capazes de suportar elevações da pressão arterial durante o exercício físico normalmente.
Há, contudo limites a partir dos quais o funcionamento mental fica perturbado. Provavelmente isso ocorre quando os mecanismos de enfrentamento e suporte contra estresse são fracos ou quando os estímulos são fortes demais.
Quando surgirá o transtorno não podemos saber, o fato de uma pessoa ter passado por um trauma não significa necessariamente que ela terá estresse pós-traumático.
Observa-se que num mesmo evento, algumas pessoas podem apresentar esse transtorno e outras não. Essas variações nos levam a julgar que existem também predisposições pessoais a este problema, o que de fato tem sido constatado.
Pessoas com outros problemas de ansiedade prévios apresentam maior susceptibilidade a desenvolverem o estresse pós-traumático.
Grupo de Risco e Curso
Qualquer pessoa pode desenvolver estresse pós-traumático, desde uma criança até um ancião. Os sintomas não surgem necessariamente logo após o evento, podem levar meses. O intervalo mais comum entre evento traumatizante e o início dos sintomas são três meses. Muitas pessoas se recuperam dos sintomas em seis meses aproximadamente, outras podem ficar com os sintomas durante anos.
Transtorno de estresse pós-traumático: uma neurose de guerra em tempos de paz
Como compreender e tratar pacientes que foram vítimas de episódios violentos, como estupro, assalto, seqüestro? Quais as conseqüências psicológicas desses eventos?
Vejamos a visão psicanalítica sobre o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), já reconhecido internacionalmente como doença.
Trata-se de um tema que foi historicamente importante para o desenvolvimento da Psicanálise, pois se percebeu que os sintomas apresentados pelos pacientes que sofriam de neurose traumática não podiam ser explicados pela teoria usual, ou seja, como uma manifestação simbólica de algum conflito inconsciente.
Apesar disso, o TEPT parece ter sido deixado de lado com o tempo. Preocupados com a responsabilidade do profissional de saúde em uma realidade em que a violência se faz cada vez mais presente e muito se debate o funcionamento mental do criminoso, mas se deixa de lado as conseqüências na psique da vítima, os autores oferecem compreensões teóricas e propostas de intervenção.
Devemos num primeiro momento rever a descrição do transtorno e, considerando a definição da CID-10 como vaga demais, explicar fatores como a experiência (resultante do evento factual que não é elaborado e da vivência) e também quais episódios da realidade poderiam ter maior capacidade traumática.
Pode-se começar vislumbrando a origem do TEPT na frustração libidinal associada a uma situação de perigo, de maneira que uma situação pode tornar-se um trauma quando o perigo presente nela excede as capacidades individuais de enfrentá-lo.
Em relação aos sintomas, detalhamos os critérios do DSM-IV, visto como mais específico se comparado com a CID-10, tomando o cuidado de diferenciar o TEPT do Transtorno Dissociativo.
Já em relação à prevalência, existem pesquisas que indicam que quantidades significativas de pessoas não conseguem se restabelecer por conta própria após alguns meses do evento, considerando cinco fases de resposta ao trauma.
Em casos crônicos, o TEPT pode permanecer por muitos anos, especialmente quando o episódio violento foi provocado por humanos, fazendo o indivíduo remodelar sua vida de maneira a evitar situações perigosas.
Importante, apresentar e discutir outros transtornos associados ao TEPT e como se dá a comorbidade.
Com relação as bases biológicas do transtorno de estresse pós-traumático, visando a uma interação entre estruturas teóricas diferentes, podemos verificar o transtorno como uma falha do organismo em se recuperar de eventos marcantes.
Entre os neurotransmissores importantes no quadro, destacamos o cortisol, um mediador da resposta de estresse, que possui relação com as memórias intensas e inapropriadas do episódio.
Como o cortisol se apresenta em quantidade reduzida em pacientes com TEPT, aventa-se a possibilidade de se prever o desenvolvimento do transtorno no período imediatamente após o evento estressor.
Abordando a metapsicologia do trauma, propõe-se uma teorização da ação do trauma no aparelho psíquico, segundo Freud e Ferenczi, apresentando evidências de uma teoria inconsciente sobre o paciente e as causas das dores, diferente da Medicina.
Visando a descobrir como a psique lida com quantidades excessivas de estimulações, vamos rever os subsistemas j, y e w, sua função e diferenciação, e como eles agem com a distribuição de energia no trabalho psíquico.
Propõe-se que o TEPT apareça como uma repetição compulsiva da dor de quando a vítima se sentiu abandonada e impotente perante uma ameaça a sua vida, o que sugere que o trauma seja uma ferida egóica que provoca um distúrbio narcísico.
Intensificando a questão crucial (psíquica) avocamos no estudo a fixação no trauma e a teoria da libido, retoma-se o conceito de pulsão de morte e compulsão à repetição na teoria freudiana.
Propõe-se que o trauma apareça por causa de um excesso de estimulação e incapacidade do aparelho psíquico em se livrar dela, surgindo uma angústia semelhante à do nascimento.
A fixação no trauma, assim, se daria como uma busca por uma nova experiência que proporcionasse uma descarga adequada.
A concepção psicanalítica de neurose e o TEPT, relembra que o transtorno surge a partir de um momento único e com sintomas não simbólicos, ao contrário das outras neuroses, onde trazemos o conceito de Neurose Traumática proposto por Freud.
Após uma detalhada revisão histórica da obra freudiana sobre o tema, explica-se como o TEPT surge devido a três alterações no aparelho psíquico: inicialmente uma falha na descarga da excitação, surgindo, por diversos fatores, a compulsão à repetição e, por fim, falhas nas defesas.
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