Ainda sobre escrever...
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"Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo. (...) Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la"  A mulher mais linda da cidade, Charles Bukowski. 

Eu continuo me perguntando porque ainda escrevo. Eu só sei que não importa o que aconteça a sensação de angústia, de não caber dentro de mim permanece. Eu sou uma pessoa sensível, antes de qualquer coisa, eu sou uma artista, uma escritora, mas o transtorno de personalidade borderline me estigmatiza e me contém de uma forma que eu jamais pensei que fosse possível. Eu quero quebrar isso de qualquer jeito.

Por mais revolta, tristeza, insatisfação, lágrimas e explosões de instabilidade que aconteçam comigo, mais eu percebo que não existe outra saída a não ser o amargo gosto da aceitação. A essa altura eu já aprendi que aceitar não é se acomodar, mas sim, compreender que a vida é o que é, e o meu papel é aprender a lidar com os problemas, aplicando as melhores estratégias. Isso me parece muito a estratégia de sobrevivência de qualquer ser vivo, lidar com todo e qualquer obstáculo que se interponha contra sua vida, da maneira mais eficaz, acima de qualquer coisa. O importante é seguir em frente, não é? Claro que sim, eu não discordo mais disso. É o que tenho feito há algum tempo. Eu simplesmente decidi aceitar abandonar todo e qualquer apego aos meus velhos conceitos de passado e futuro e tenho descoberto coisas interessantes, não necessariamente otimistas. Apenas interessantes. 

Eu quero falar, quero escrever, mas será que alguém quer ouvir? Eu realmente não sei, ás vezes acredito que não. Ultimamente, tudo o que eu falo ou escrevo, parece ser visto sob a ótica da "loucura', como se primeiro as pessoas tivessem de passar o que eu disse ou escrevi por um filtro para saber se eu estou ou não "surtada" e, a partir daí decidir se vale a pena ou não. Isso me parece tirania. Uma pessoa com uma doença, qualquer que seja, não pode dizer coisas profundas? Não pode ser inteligente? Não pode ter uma conversa? Quer dizer que eu, por ter um transtorno que me deixa, ás vezes, emocionalmente instável, não sou digna de entrar em uma discussão, um debate ou uma complexa discussão de relacionamento? Quando você coloca todo o peso da relação interpessoal apenas no "doente", você está dizendo que você é perfeito, não comete erros, e não dá oportunidade para o outro mostrar suas qualidades. Você está sendo um ditador, e esse é meu ponto de vista. Eu sou uma paciente e também sou uma cidadã. Sou amiga, sou ouvinte, mas também sou a que tenho crises. Eu sou a que vive na fronteira. Eu sou a que tem os dois pontos de vista. 

Eu não sei qual é o objetivo dessa coisa que chamam de vida. Nem mesmo sei qual é o meu próprio objetivo enquanto escrevo. Cada dia que passa eu vejo menos motivos para continuar aqui, escrevendo. Quem realmente eu estou ajudando? Isso aqui é mais do que um texto, é um desabafo sincero de uma pessoa cansada de ser vista apenas como a louca esquisita que tem borderline. É assim que as pessoas me veem e elas acham que eu não sei. A esquisita, calada, louca, é julgamento atrás de julgamento. Julgamento disfarçado, julgamento explícito, de pessoas que odeio, de pessoas que amo, de pessoas que ignoro, e até de mim mesma. E eu fico indiferente porque é a estratégia que eu arrumei para sobreviver, mas não é o suficiente. Eu quero mais do que sobreviver. Eu quero ser ouvida. Mas ninguém quer ouvir, então... eu não tenho saída. Fico parecendo aqueles ratos correndo na rodinha, sem razão, sem querer parecer louca e sendo ainda mais louca. E eles acham que essa sou eu. 

Um dia eu acreditei que estava fazendo algo grande através de um ato pequeno (esse blog). Acreditei que poderia inspirar alguém a mudar a si mesmo porque é tudo o que eu posso fazer, inspirar você a pensar. Eu não tenho poder nenhum além desse. Essa é a mágica da escrita, da arte: inspirar. Mas, ultimamente, diante de tanto julgamento velado e explicito, diante de tanto peso, falta de incentivo e esse preconceito aberto contra nós, pessoas com transtornos mentais (e o pior é que as pessoas não admitem!), eu me pergunto até quando eu vou continuar fingindo que suporto?... Por enquanto, eu continuo seguindo em frente.



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