Alentejo e o suicídio endêmico dos idosos
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Alentejo e o suicídio endêmico dos idosos


Suicídio é consequência da falta de apoios à população idosa e comportamentos enraizados

O médico psiquiatra Fernando Areal defendeu hoje que os idosos no Alentejo se suicidam por "não lhes restar outra solução" e devido a um "enraizamento" de comportamentos com mais de um século.

Em declarações à agência Lusa, o clínico, que foi responsável pelo Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Beja durante cerca de três décadas, referiu que a região "foi sempre muito desprezada do ponto de vista dos apoios" e, durante muitos anos, foram "só os psiquiatras a falar" sobre o problema.

Debatendo-se com "carências de toda a ordem", aos idosos "mais desprotegidos" restava-lhes a solução do suicídio e, apesar das melhorias verificadas ao nível da assistência médica e social, o psiquiatra considera que "este problema vai continuar", porque ainda há "franjas de idosos isolados, depressivos e sozinhos".

Fernando Areal relacionou também as elevadas taxas de suicídio no Alentejo, sobretudo em Odemira (superior a 50 por 100 mil habitantes), com um "enraizamento de comportamentos com mais de 100 anos", sendo que, em determinadas zonas, como Sabóia, freguesia do concelho de Odemira, "um indivíduo suicidar-se é um ato de honra e não tem nada de negativo".

Para o psiquiatra, o problema tem de "ser trabalhado a nível das freguesias onde a taxa de suicídio é mais elevada" e congratulou-se por estar a ser construído, no Hospital de Beja, um internamento para doentes do foro psiquiátrico, apesar de considerar que tal já deveria ter acontecido há muito mais tempo.

Mário Jorge Santos, responsável pela área de Saúde Mental na Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde Alentejo Litoral, explicou à Lusa que, para ajudar na prevenção do suicídio na região, estão a ser utilizadas as unidades móveis de saúde de Odemira e Santiago do Cacém.

A "missão" destas unidades é identificar os habitantes dos montes, onde vivem, muitas vezes, apenas uma ou duas pessoas isoladas, de forma a saber-se "onde estão, quem são e quantos são", estratégia que, no entender do clínico, será "determinante para diminuir a taxa de suicídio no Alentejo".

Os médicos participaram esta tarde num fórum de discussão sobre o suicídio no Alentejo, no âmbito das VIII Jornadas de Saúde Mental do Alentejo, integradas no evento sobre saúde mental Praxis Mentis - Caminhos na Mente, a decorrer em Sines até sábado.

No mesmo debate, o psiquiatra Bessa Peixoto defendeu a necessidade de ser criado, em Portugal, um programa de saúde mental com um plano nacional de prevenção do suicídio, conforme preconizado pela Organização Mundial de Saúde.

Fonte: http://sicnoticias.sapo.pt/Lusa/2011/06/02/alentejo-suicidio-e-consequencia-da-falta-de-apoios-a-populacao-idosa-e-comportamentos-enraizados---especialista



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