Autópsia psicológica em discussão a partir de um caso concreto: Alentejo, Portugal.
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Autópsia psicológica em discussão a partir de um caso concreto: Alentejo, Portugal.


Psicólogo defende que “no Alentejo há mais doença mental encapotada do que parece”
CATARINA GOMES 

Especialista enfrentou no terreno a dificuldade de pôr em práticas as chamadas "autópsias psicológicas", que tentam estudar a vida das pessoas que se suicidaram.

José Henrique Santos, psicólogo clínico e um dos autores do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, diz que “no Alentejo o suicídio esteve sempre muito associado ao isolamento e à solidão, mas ligou-se pouco à psicopatologia”, quando “na região há muito mais doença mental encapotada do que parece”. A sua será uma das várias intervenções do 3.º Congresso da Associação Psiquiátrica Alentejana, que decorre em Serpa desde quinta-feira e termina no sábado.

“Sabe-se, pela maioria dos estudos, que a doença mental, nomeadamente a depressão, concorre para a maioria dos casos de suicídio”, refere o psicólogo, que fez parte do Departamento de Psiquiatria da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo. As causas e os perfis dos suicidas estão pouco estudados e, com esse objectivo, tentou usar o instrumento da chamada “autópsia psicológica” numa população de Odemira, concelho apontado pelos especialistas como tendo uma das maiores taxas de suicídio não só a nível nacional como mundial. Segundo dados do Observatório do Suicídio e Para-suicídio do Baixo Alentejo, em 2011, Odemira registou 30,7 suicídios por 100 mil habitantes, contra 9,6 da média nacional. Em 2012, subiu para 46,5.

Uma autópsia psicológica pretende reconstituir os últimos meses de vida de uma pessoa que se suicidou, tentando perceber as causas do suicídio, nomeadamente com entrevistas a familiares. No Plano Nacional de Prevenção do Suicídio diz-se que “a autópsia psicológica constituiria um método muito útil de investigação retrospectiva”, mas também se diz que a sua realização exigiria “recursos humanos diferenciados e meios logísticos onerosos, que, à luz da realidade nacional, inviabilizam a sua utilização por rotina, embora possa – e deva – ser utilizada, com vantagem, em casos seleccionados”.

José Henrique Santos experimentou na prática as dificuldades deste método, que tentou pôr em prática no âmbito de uma tese de mestrado em Políticas de Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Lisboa, aprovada em Março deste ano. Em Odemira entrevistou familiares de 30 suicidas, mas notou que havia grande dificuldade em falar sobre o sucedido. “Emocionam-se, não sei se dizem tudo o querem dizer sobre o suicídio”, diz. Essa reacção pôs em causa “a qualidade da informação recolhida”, observa. Tentou também coligir dados sobre as pessoas que se suicidiram nos registos de saúde, mas também aí pouco descobriu sobre os seus perfis de saúde. Nesse sentido, defende que “deve aumentar a quantidade de informação registada”, sublinhando a importância de promover “hábitos de investigação nos serviços de saúde mental”.

Do relato dos poucos familiares com quem conseguiu falar, 30 pessoas, constatou que estas pessoas que se suicidiram tinham menos actividades de lazer, em comparação com um outro grupo de pessoas da mesma localidade que tinham morrido de causas naturais – recebiam menos amigos e família e tinham menos actividades ligadas ao desporto, à caça e à pesca. Apresentavam também menos idas ao médico. José Henrique Santos diz que, apesar de haver mais acesso à saúde no Alentejo do que há 15-20 anos, continua a haver “problemas de acessibilidade”, associados, por exemplo, a dificuldades de transporte, a que se junta “uma desvalorização da saúde mental por parte das próprias pessoas”.

“Era importante afinar ou precisar as condições de despiste de patologias mentais, nomeadamente da depressão para uma mais precoce identificação destes casos e assim poder actuar sobre eles.” No seu contacto com as populações o que o impressionou foi a confirmação dessa ideia de que “há muito mais doença mental encapotada do que parece". "Se não se apanhar há muita gente que se perde.”

Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/psicologo-defende-que-no-alentejo-ha-mais-doenca-mental-encapotada-do-que-parece-1638873




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