Dia 10 de Setembro – Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio
Jair Segal
Jair Segal
O comportamento suicida representa uma das maiores preocupações em saúde pública na atualidade. A cada ano, um milhão de pessoas comete suicídio ao redor do mundo. No total, estima-se que ocorram aproximadamente 30 mil suicídios por ano nos EUA e 120 mil na Europa (Jamison, 2002).
O coeficiente de mortalidade por suicídio está na população geral mundial entre 10 e 20 para cada 100 mil indivíduos. Embora os dados epidemiológicos variem entre os diferentes países, o coeficiente brasileiro está abaixo da média mundial. Entretanto, na região sul do Brasil, especificamente no Rio Grande do Sul, o coeficiente de mortalidade por ano é duas vezes maior (9,88 suicídios para cada 100 mil habitantes por ano) que a média nacional (MS/SVS, 2006).
Embora as mulheres façam mais tentativas de suicídio que os homens, estes tem uma mortalidade 4 vezes maior que as mulheres em suas tentativas. É sabido que 80% dos suicídios completos são de pessoas do sexo masculino (Roy, 1999). Esse problema afeta todas as idades e constitui a terceira causa de morte entre adolescentes e adultos jovens menores de 24 anos e a quarta causa mais frequente de morte de crianças na faixa dos 10 aos 15 anos nos Estados Unidos (Roy, 2000).
No Brasil, a mortalidade proporcional por suicídio de maior magnitude é observada nos adolescentes de 15 a 19 anos (Werlang e Botega, 2004). As estatísticas brasileiras mostram que os acidentes de trânsito constituem-se como a principal causa de morte em indivíduos jovens, mas estão envolvidos o abuso de substâncias como o álcool e outras drogas, misturas que podem ser relacionadas indiretamente com o suicídio.
Mesmo já havendo definições sobre os fatores de risco e proteção do suicídio, estes ainda se constituem insuficientes na prevenção e no tratamento do problema. Muitos suicídios ocorrem de forma inesperada e outros, mesmo esperados por seu risco, parecem ser imprevisíveis.
O suicídio geralmente é o desfecho trágico de doenças psiquiátricas como os transtornos afetivos, transtornos psicóticos (esquizofrenia) e alcoolismo. A tendência verificada nestes grupos é que em quase 90% dos casos de suicídio há o diagnóstico de doença mental ou de uso abusivo de substâncias psicoativas.
Apenas uma minoria é desencadeada por eventos estressantes em pessoas com uma vida emocional saudável e nesses casos o risco de um comportamento suicida é geralmente temporário e potencialmente prevenível. Sabemos que o atendimento em saúde mental não tem recebido a devida atenção bem como o atendimento em geral no Brasil.
A constante diminuição de leitos em hospitais psiquiátricos nas últimas décadas mostrou ser uma política equivocada, que também não conseguiu suprir com locais para atendimento psiquiátrico para nossa população. Mas muito pode ser feito em termos de políticas públicas para tentar reduzir estatísticas de mortalidade tão alarmantes como as nossas no Rio Grande do Sul.
Entre as medidas salutares está a adequada oferta de atendimento psiquiátrico à população, o controle mais restrito de venda, legislação e veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas e o esclarecimento da população sobre os fatores associados ao comportamento suicida que tem ceifado vidas de forma dramática em nosso estado.
Como lidar com pessoas com idéias suicidas:
1- Questione sobre idéias de suicídio e passe confiança. Se a pessoa se sentir acolhida poderá expressar seus sentimentos e assim desabafar.
2- A ameaça de suicídio deve ser levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda.
3- “Quem quer se matar, se mata mesmo?”
Tal pensamento pode induzir ao descuido da pessoa sob risco.
4- “Quem quer se matar não avisa.”
Pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam expressam de alguma forma sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos.
5-“O suicídio é um ato de covardia (ou de coragem)?”.
O que dirige a ação auto-inflingida é uma dor psíquica insuportável e não uma atitude de covardia ou coragem.
6- “No lugar dele, eu também me mataria.”
Há sempre o risco da pessoa ou profissional identificar-se profundamente com aspectos de desamparo, depressão e desesperança do paciente, desenvolvendo uma sensação de impotência.
*Dr. Jair Segal, médico psiquiatra e associado da AMRIGS
Fonte: Blog Viva Melhor (vide link) - 10 setembro 2011 - 6:00
O Blog Viva Melhor é um novo espaço virtual que disponibiliza aos internautas informações de credibilidade na área da saúde. Uma iniciativa da Associação Médica do RS (AMRIGS) e do clicRBS, tendo como parceiros as Sociedades de Especialidades, o Sindicato Médico RS (SIMERS) e o Conselho Regional de Medicina do RS (CREMERS).