O hábito de sentir
Sintomas e tratamentos

O hábito de sentir


Hoje aconteceu-me uma coisa estranha. Reparei que tinha um vale que me tinha sido oferecido no natal para descontar em compras que estava a terminar o seu prazo de validade. Decidi gastá-lo no supermercado, considerando-o como um bónus, que iria aumentar o meu dinheiro disponível para efectuar as minhas compras.

Entrei no estabelecimento pensando que poderia comprar produtos de melhor qualidade e ainda algo extra. Comecei a percorrer as prateleiras e a colocar no cesto as coisas de que necessitava. Quando estava quase no fim, ao pegar numa lata de cerveja apercebi-me, espantada, que apesar de o meu dinheiro disponível ser superior ao normal, inconscientemente fui levada a escolher exactamente os mesmos produtos que comprava anteriormente: os mais baratos, embora de marcas diferentes. O meu cabaz era pobre e sobrava-me ainda muito dinheiro para gastar. Fiquei frustrada, porém em vez de ir trocar os produtos decidi guardá-lo para futuras ocasiões.

Podemos fazer uma analogia entre os produtos do supermercado e as nossas emoções. O que se passou comigo hoje passa-se com cada um de nós relativamente ao que sente. Na verdade, ainda que a nossa vida tenha mudado, que tenhamos todas as razões para sermos felizes, estamos habituados a "escolher" as mesmas emoções negativas que em tempos mais difíceis. Quantas vezes nos foi dado um aumento de ordenado que há muito ambicionávamos ou encontramos a pessoa amada e damos por nós a experimentar o mesmo medo, a mesma raiva, o mesmo ódio? Isto deve-se ao hábito. O nosso cérebro habituou-se a criar sempre as mesmas sinapses, abriu e alargou os caminhos para as essas emoções, enquanto os que levam á alegria estão cheios de ervas e pedras, muitas vezes é difícil perceber que ali existiu em tempos uma estrada. É difícil mudar, bem tentamos mas voltamos ao mesmo. Ficamos frustrados e no fim, sobra-nos ainda tempo que podíamos gastar na emoção "alegria", mas decidimos guardá-lo para quando os filhos crescerem, quando tirar a carta, quando fôr rica...

Muitas pessoas confundem emoções com sentimentos. No dicionário Petit Robert encontramos a seguinte definição de emoção: "Estado afectivo intenso, caracterizado por uma brusca perturbação física e mental onde são abolidas, na presença de certos estímulos ou representações muito vivas, as reacções apropriadas de adaptação ao acontecimento". O Petit Larousse acrescenta ainda: "Perturbação passageira provocada pela alegria, a surpresa, o medo, etc". Isabelle Filiozat define-a como "um movimento em direcção ao exterior, um impulso que nasce no interior de nós próprios e que fala ao que nos rodeia, uma sensação que nos diz quem somos e nos coloca em relação com o mundo". Esta psiquiatra e escritora francesa diz-nos ainda que todos os seres humanos, indempendentemente da sua raça, sexo ou idade as vivem da mesma maneira.

Cada emoção dura apenas alguns segundos. Se dura horas, não é emoção mas humor. Quando dura semanas já não é humor mas perturbação afectiva. Em contrapartida os sentimentos são duradouros.

Ao contrário dos sentimentos que podem ser inúmeros, existem apenas cinco emoções de base, embora alguns entendidos na matéria conseguem distinguir algumas mais. São elas a cólera, o medo, a tristeza, a alegria e o desgosto. Podem acrescer a estas a culpabilidade, o desespero, a raiva, a inveja, o ciúme, a surpresa, a excitação, a ternura, o amor. As emoções são biológicas, pulsionais, enquanto os sentimentos são elaborações secundárias porque são mentalizadas. Os sentimentos prolongam-se no tempo e geram ou são alimentados por emoções.

Ter consciência das nossas emoções, saber distingui-las dos sentimentos e conseguir identificá-las é uma forma de levar o nosso cérebro a deparar-se com mais hipóteses na altura de "escolher". É preciso persistência para mudar hábitos tão profundamente enraízados. Eu diria mesmo que é preciso coragem. A maior parte das pessoas acomoda-se, passa uma vida inteira infeliz à espera de um milagre que lhes limpe as estradas que levam a emoções positivas para então poderem desfrutar da alegria.



loading...

- Não Fomos Desenhados Para Ser Infelizes
Fonte da imagem: http://kleluz.blogspot.pt/2012/12/infelicidade-alheia.htmlO ser humano trás no seu ADN todas as directivas para formar um corpo físico, com todas as funcionalidades necessárias à vida e continuação da espécie, mas não só. Porque...

- A Felicidade é Uma Opção
Todos queremos ser felizes. Porém, a maior parte das pessoas não tem como objectivo alcançar esse fim. Ou seja, é como desejar ganhar o euromilhões sem sequer jogar! Mas no que concerne ao estado de felicidade, não há nenhuma chave de sorteio que...

- Colecção De Mágoas....
Já fizeram uma limpeza ao sótão, ou àquela arrecadação onde vão guardando ao longo dos anos tudo o que já não cabe no sítio? Pois é, de vez em quando todos fazemos isso, nem que seja uma vez por década...Esse lugar está cheio de coisas que...

- Feel The Fear And Do It Anyway!
Susan Jeffers no seu livro "Feel the fear and do it anyway" (em português "Sentir o medo e avançar à mesma"), sustenta a tese de que o medo de qualquer coisa não é mais do que o medo de não a conseguirmos suportar. Se soubessemos que conseguiríamos...

- Doença Por Choque Emocional
Quando qualquer um de nós tem uma doença física, há mais de 50% de probabilidades de que a moléstia seja induzida pelas emoções. A doença por choque emocional é física, e não, mental. Produz milhares de sintomas, variando desde as familiares...



Sintomas e tratamentos








.