Sintomas e tratamentos
Reflexões & ações oportunas vindas do Piauí
Carências e desafios dos serviços de prevenção ao suicídioA ocorrência contínua de suicídios chama atenção para a necessidade de fazer um trabalho de atendimento e prevenção a pessoas com problemas de saúde mental e aprimorar os serviços que já existem
Em 2014, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou que entre os anos 2000 e 2012 houve um aumento de 10,4% dos casos de suicídio no Brasil. Esse é o mais recente dado da entidade que alerta sobre a necessidade de aprimorar e avançar os serviços que já existem e fazer um trabalho de atendimento e prevenção a pessoas com problemas de saúde mental grave, sejam eles públicos, privados ou Organizações Não-Governamentais. O Jornal Meio Norte já divulgou um mapa do atendimento de prevenção ao suicídio.
No entanto, esses serviços apresentam algumas carências e gargalos que impedem uma maior eficácia nos atendimentos a pessoas com comportamentos suicidas. Além disso, é necessário que se criem mais ambulatórios, programas ou serviços que possam atender às pessoas que precisam de ajuda, pois especialistas afirmam que, com o acompanhamento adequado, elas podem superar esse momento de crise e prosseguirem suas vidas.
O Programa de Valorização da Vida e Prevenção do Suicídio – ProVida enfrenta uma série de demandas que precisam ser revistas para melhorar a prestação do seu serviço de atendimento à comunidade por meio de ações de valorização da vida e prevenção do comportamento suicida.
O cenário do ambulatório é composto por uma psiquiatra e dois psicólogos que atendem uma média de 260 pacientes por mês. Os atendimentos estão divididos entre individuais, familiares e pessoas que não precisam do serviço e que são encaminhados para outros setores (apenas 5% do total). De acordo com Daniel Feitosa, psicólogo do ProVida, um atendimento psicológico clínico dura cerca de 50 minutos.
Nos casos de possíveis suicidas, o atendimento se torna muito mais complexo e preciso. Os psicólogos se revezam no consultório de segunda à sexta-feira, nos turnos manhã e tarde. Feitosa ressalta que o total de atendimento ideal para o horário estabelecido, que é de 8h às 12h e das 13h às 15h, seria 4 pessoas por turno, mas já houve dias em que chegou a atender até 8 pacientes. A realidade enfrentada no local aponta a necessidade de investir na contratação de profissionais que lidem direta ou indiretamente com esse tipo de caso.
A única psiquiatra que atende no ambulatório está no último ano de residência, por isso teve seus horários de plantão reduzidos para o horário de 12h às 14h.
EstruturaOutra demanda é a falta de estrutura no prédio, que no início do serviço, em setembro de 2014, recebia e acolhia os pacientes de forma mais confortável, pois o corredor que dava acesso à sala havia sido fechado e foram posicionados armários e longarinas. A porta de entrada fica em frente ao corredor. No local, o movimento era menor e a recepção das pessoas era mais confortável e discreta.
“Os pacientes ficavam esperando em um local calmo e o atendimento ocorria de forma mais tranquila, mas com o passar do tempo a parede foi quebrada, o movimento se intensificou e os pacientes ficam aguardando em meio à grande movimentação de pessoas. O nosso trabalho acaba sendo prejudicado”, destaca.
Caso alguém queira ligar para agendar um atendimento, não vai encontrar um telefone específico para o ProVida e nem a presença de um atendente, tão pouco uma recepção. Nem mesmo longarinas para esperar o atendimento sentado existem. O psicólogo lembrou que pelo local já passaram dois secretários que ajudavam imensamente o serviço, mas que foram tirados do serviço.
Ele destaca que já foi feito um ofício e entregue à direção do Hospital Lineu Araújo e à direção da Fundação Hospitalar de Teresina (FHT), solicitando a presença de um secretário para auxiliar no serviço burocrática, para que os profissionais possam se dedicar exclusivamente aos atendimentos. “A gente torce e pede para que essa situação seja resolvida, pois estamos ali para fazer nosso trabalho com todo nosso empenho, mas somos apenas uma parte da engrenagem que precisa de mais investimentos para funcionar melhor”, ressalta.
Ações estão sendo planejadasA diretora de assistência hospitalar da Fundação Hospitalar de Teresina (FHT), Jesus Mousinho, responsável por gerir o Hospital Lineu Araújo, onde o ambulatório Pro Vida está instalado, afirmou que recebeu o comando do hospital em janeiro deste ano e que a prioridade é melhorar todos os serviços que o centro de especialidades médicas oferece. Ela acrescenta que o ProVida possui um agravante por causa da FHT não dispor de um núcleo de saúde mental.
Na estrutura e organização do prédio, a diretora afirmou que o corredor voltou a ser aberto porque impedia que os demais pacientes tivessem acesso a algumas salas e destacou que no hospital há a presença de mulheres gestantes, crianças e idosos. “O corredor é passagem para as pessoas e no período da chuva as pessoas que estavam sendo atendidas tinham que atravessar pela rua para marcar o retorno ou um exame, por isso resolveu-se abrir novamente o corredor”, disse.
Sobre a prestação de serviço da secretaria no ambulatório, a gestora lembra que o serviço foi suspenso por conta de uma determinação do Ministério do Trabalho, que mandou retirar todos os prestadores de serviço da Rede Municipal de Saúde, mas enfatizou que uma nova profissional já está sendo contactada para iniciar o trabalho.
“Eu estive no Provida e uma secretária já está designada para começar a trabalhar no local”, completa.
Em relação ao número de profissionais, está sendo articulado junto com a equipe da saúde mental da Fundação Municipal de Saúde (FMS), para reorganizar o Provida, identificar as necessidades e demandas, como o trabalho está sendo desenvolvido. “Nós estamos melhorando cada setor do Lineu Araújo e vamos rever o que podemos melhorar no Provida”, pontua.
Jesus Mousinho disse ainda que vai estudar a possibilidade de instalar um telefone próprio para o atendimento do ambulatório. “Nós já tivemos em um primeiro encontro com a equipe da FMS e vamos para um segundo para providenciar todas essas questões em relação ao ProVida”, frisa.
Centros, grupos e ONGs precisam de apoioA falta de recursos para produção de material informativo é uma realidade no Centro Débora Mesquita (CDM) e no Centro de Valorização da Vida (CVV), como também para outras instituições que atuam na causa. A ausência de um programa informativo e de acompanhamento ao público infantojuvenil é outra questão que precisa de um olhar mais sensível por parte de investidores e do poder público.
No caso do CDM, o número de voluntárias é pequeno, visto que a demanda aumenta a cada dia, além da carência de um psiquiatra no Centro. Há uma grande e urgente necessidade de ações do poder público na capacitação dos agentes de saúde, e todos envolvidos na área da saúde sobre o assunto, como também agir expandindo as informações e os serviços para todo o estado.
No CVV, a pouca disponibilidade de recursos financeiros impede os voluntários de fazerem uma divulgação maior nas diversas mídias acerca da disponibilidade e da gratuidade do serviço para a comunidade de Teresina e Timon. A falta de recursos também impede a confecção de cartazes, panfletos, banners, faixas etc, que permitiriam dar mais visibilidade à prestação do serviço.
“Seria interessante convencer a administração dos meios de comunicação a cederem gratuitamente pequenos espaços diários para veiculação de vídeos, spots ou banners em jornais impressos e em portais de internet. Com relação à produção de materiais de divulgação, seria interessante se algumas empresas pudessem ajudar a confeccionar os cartazes, panfletos, banners, faixas e mais”, avalia Eyder Mendes, coordenador de Divulgação do Posto CVV Teresina.
CVV precisa de mais voluntáriosAlém disso, a organização, que é uma das mais antigas do Brasil, ainda não conseguiu preencher as 24 horas de atendimento após 30 anos funcionando em Teresina. Atualmente, o horário das 22h às 06h da manhã não possui atendimento, pois faltam voluntários.
Um dos principais fatores é a dificuldade de recrutar voluntários que são selecionados por meio de processo seletivo e passam por um curso de capacitação. Faltam também recursos financeiros para custear despesas de transporte/hospedagem para os voluntários que precisem participar de cursos do próprio CVV fora de Teresina.
Eyder lembra que o CVV precisa de uma sede própria, em razão da entidade não ter nenhuma segurança para a continuidade da prestação de nossos serviços voluntários. Atualmente, o trabalho acontece em salas cedidas pela Prefeitura de Teresina através da Semtcas.
O Grupo de Apoio Contato Esperança (Grace) reconhece que é preciso mais divulgação através da mídia; falar com mais veemência sem que isso onere as ONGS que precisam de ajuda para se manter, além de mobilizações pró-vida nos semáforos entregando folhetos no Dia Mundial de Combate ao Suicídio e divulgação dos seus serviços.
Fonte; http://www.jornal.meionorte.com/theresina/carencias-e-desafios-dos-servicos-de-prevencao-ao-suicidio-287909
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