Suicídio e gênero
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Suicídio e gênero


Mulheres têm mais pensamentos suicidas

Alexandre Teixeira, pesquisador português, desenvolveu estudo sobre suicídio em prostitutas de rua e fala ao Destak sobre as tendências deste fenómeno.

Como diz na sua tese sobre suicídio, este sempre foi um fenómeno que desperta grande curiosidade ao ser humano. O que acha que pode levar alguém a ponderar pôr fim à sua própria vida e até mesmo a tentá-lo e concretizá-lo?

O sentimento de desesperança e de falta de perspectivas de conseguir alterar o rumo que a sua vida leva, está em muitas situações na génese dos pensamentos suicidas e das tentativas de suicídio.

Não devemos esquecer porém, que o suicídio pode ter múltiplas causas, sendo um comportamento influenciado por uma miríade de factores, como os culturais, sociais, religiosos, familiares, pessoais, bioquímicos, etc.

Acredita que existem diferenças entre sexos no que respeita ao suicídio?

No que respeita, ao suicídio, existem diversos estudos, que nos mostram quase de uma forma universal a diferença entre homens e mulheres relativamente aos comportamentos suicidários.

Por norma, as mulheres têm um número superior de tentativas e de pensamentos suicidas, optando geralmente por métodos suicidas com uma menor letalidade. Enquanto os homens, são menos propensos a revelarem a existência de pensamentos suicidas e a procurarem menos ajuda, quando os têm. Os homens tendencialmente optam por métodos de suicídio com um maior nível de letalidade e de irreversibilidade, não surpreendendo portanto que o número de suicídios consumados tenda a ser superior entre os homens.

Quais os principais sinais a que os familiares e amigos devem estar atentos?

Existem alguns sinais, que não se reflectindo necessariamente numa causalidade com a tentativa de suicídio, podem indiciar um perigo acrescido.

Mudanças de comportamento, com um maior retraimento emocional e um maior desligamento da realidade circundante. Uma perda recente, seja de um ente querido, seja do papel social (despedimento, reforma, etc.). O desprendimento/oferta de alguns bens que lhe são queridos e que por norma não ofereceria a alguém. Certas expressões como “Por vezes desejava não ter nascido”, “Só me apetece desaparecer” ou “Desejava acabar com tudo”, também são sinais a ter em conta e que merecem a atenção de quem se encontra mais próximo.

Acredita que existem profissões que deixam os seus colaboradores mais vulneráveis ou com um risco mais elevado de cometerem suicídio? Se sim, quais?

Maiores níveis de stress e desgaste emocional, associados ao acesso a métodos letais, têm-se repercutido muitas vezes em profissões onde as taxas de suicídio são tendencialmente superiores às da população geral. Exemplo comum desse tipo de profissões são os médicos, dentistas ou agentes das forças de segurança.

Ultimamente temos assistido a algumas situações que saem deste quadro mais tradicional e que resultam em muitos casos de situações de assédio moral no local de trabalho, de um clima de constante competição interna, de uma maior precarização dos vínculos laborais e consequente receio do desemprego, bem como de uma deterioração do valor do trabalho e do trabalhador.

A crise e as dificuldades financeiras que se vivem podem aumentar o número de pessoas que tentam pôr fim à sua própria vida? Porquê?

O aumento das dificuldades financeiras e a dificuldade de acesso a um rendimento, associado em algumas situações à perda de um estatuto e de um papel social, pode em casos extremos, levar a um sentimento de desesperança e de falta de alternativas que em última instância pode resultar num aumento do número de suicídios.

Em Portugal temos observado um aumento significativo do número de óbitos resultante de lesões auto infligidas, como o demonstram os números do INE. Se tradicionalmente o número de suicídios consumados tem sido inferior a 1000 suicídios nas últimas décadas, entre 2004 e 2009 apenas por duas vezes este número foi inferior a este valor. Naturalmente que estes dados carecem de estudos mais aprofundados para aquilatar melhor o que se encontra por trás deste aumento no número de suicídios.

Quais os métodos de suicídio mais usados por homens e mulheres?

Historicamente, os homens costumam optar por métodos de suicídio, com um maior nível de violência e concomitantemente, com uma maior prevalência de letalidade, tais como o recurso a armas de fogo ou ao enforcamento. Já as mulheres têm tendência por recorrer a métodos menos violentos e que por norma, permitem a reversibilidade do acto, caso este seja detectado atempadamente, como é o caso da toma excessiva de medicamentos.

Existe alguma forma de prevenir estes actos?

A prevenção dos comportamentos suicidários, é um trabalho complexo e, que exige um esforço concertado de vários intervenientes, desde os familiares mais próximos, ao círculo de amizades, aos técnicos de saúde.

O apoio familiar e da comunidade, bem como um acompanhamento clínico apropriado e continuado no tempo, o acesso a serviços de apoio emocional, e crenças culturais e religiosas que desencorajem o suicídio, são alguns dos factores que ajudam a mitigar a existência de comportamentos suicidários letais.

O que o levou a estudar a incidência de ideação suicida em prostitutas?
 
Analisando separadamente os factores de risco, para o comportamento suicidário nas mulheres, e os factores de risco existentes na prostituição de rua, foi possível observar, que existia uma sobreposição de vários destes factores de risco, como por exemplo os baixos rendimentos, vitimização na infância, episódios de violência física e sexual por parte de estranhos e de companheiros, baixo suporte social ou consumo de substâncias psicoactivas, entre outros.

No entanto, quando procuramos encontrar estudos que explorassem a existência de comportamentos suicidários em prostitutas de rua, percebemos, que era um campo parcamente estudado, sendo extremamente escassos os estudos internacionais conhecidos.

Conjugando o conhecimento desta sobreposição de factores de risco com a inexistência de estudos nesta população, consideramos que seria pertinente tentar perceber melhor a existência e prevalência de comportamentos suicidários nestas mulheres.

Quais as principais conclusões do estudo e quais o surpreenderam mais?

Os dados obtidos sugerem que estas mulheres privam mais de perto com o comportamento suicidário do que esperaríamos. Metade das mulheres que participaram no estudo, conhece alguém que tenha tentado o suicídio, 25% relatam ter alguém na família que tentou o suicídio e 44,2% dizem ter tentado pôr termo à sua própria vida.

Apesar destas mulheres estarem expostas a múltiplos factores de risco na sua actividade profissional, como o consumo regular de substâncias psicoactivas, episódios recorrentes de violência e a necessidade de permanecer na prostituição para sobreviver, é nos conflitos familiares, que estas mulheres colocam a responsabilidade pelas suas tentativas de suicídio (47,8%). A alta prevalência de prostitutas que foram diagnosticados com algum tipo de patologia mental (55,8%), especialmente os transtornos de humor, sem posterior acompanhamento após o diagnóstico, também merece cuidados especiais para sua prevenção.

Acreditamos que são necessários mais estudos para compreender as dinâmicas dos comportamentos suicidários, mas também que é urgente trabalhar no desenvolvimento de programas de prevenção do suicídio.

21 | 09 | 2011  
Patrícia Susano Ferreira | [email protected]
http://www.destak.pt/artigo/106688-milheres-tem-mais-pensamentos-suicidas



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