Algo raro aconteceu nesta segunda-feira: a Anvisa anunciou a aprovação de uma nova vacina, antes mesmo de ela ser lançada nos maiores mercados de medicamentos do mundo, os EUA e a Europa. O Dengvaxia é uma boa notícia para fechar 2015, e chega em boa hora: com um aumento no número de casos no Brasil batendo em 200% no último ano, e o número de mortes crescendo 80% no mesmo período, a doença estava prestes a ganhar ares de calamidade pública. A vacina deve arrefecer esse risco.
2015 foi um bom ano em termos de inovações impactantes na indústria farmacêutica: vacinas contra malária e ebola (da britânica GlaxoSmithKline e da americana Merck, respectivamente) também obtiveram aprovações importantes e estão à beira de serem lançadas no mercado. Agora foi a vez da multinacional francesa Sanofi Pasteur, cuja vacina contra dengue mostrou eficácia de mais de 90% contra os casos mais graves, de dengue hemorrágica, o suficiente para tirar a força da epidemia. As três vacinas das três multinacionais farmacêuticas têm uma característica em comum: todas focam em doenças infecciosas típicas do mundo pobre, com alta incidência em países tropicais.
Isso explica a nova estratégia de mercado: lançar as vacinas antes em países "emergentes" (difícil conter as aspas nestes tempos de crise), como o México, as Filipinas e o Brasil, os três primeiros no mundo a aprovarem a Dengvaxia.
As grandes empresas farmacêutica obviamente estão de olho grande nesses mercados, que tradicionalmente são mal atendidos por empresas quase sempre sediadas em países temperados. Mas esse olho grande é boa notícia num momento como o atual, com as mudanças climáticas acelerando o espalhamento de epidemias tropicais.
A Sanofi sonha grande: espera fazer mais de 1 bilhão de dólares por ano, no mundo, com o novo produto. Se essas estimativas se concretizarem, a Dengvaxia será uma das três vacinas mais vendidas da centenária multinacional francesa.
O plano da Sanofi é vender o Dengvaxia em grandes lotes para os governos, para permitir uma imunização em massa, melhor estratégia para conter uma epidemia. O preço ainda não foi anunciado, mas a Sanofi prometeu que será "razoável" (o que não significa muito, já que fabricante algum vai a público divulgar que seu produto é caro demais).
Mas já está claro que a conta fecha com folga para o Brasil. Afinal, o país gasta cerca de 1,2 bilhão com a dengue por ano, e essa fortuna nem inclui as tragédias humanas causadas pela doença. Na real, vale torcer para a Dengvaxia seja um sucesso de vendas. Quem sabe sirva de estímulo para a indústria continuar investindo em doenças tropicais, como a zika, transmitida pelo mesmo mosquito Aedes aegypti da dengue e da febre amarela.
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