Sintomas e tratamentos
Ah que raiva!
Fonte: Google imagens
Continuando a falar sobre os critérios para o diagnóstico de Transtorno da Personalidade Borderline, segundo o DSM (o manual dos psiquiatras), falei até agora dos seguintes tópicos:
(1) evitar a qualquer custo abandono real ou imaginário
(2) Padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos.
(3) Perturbação da identidade
(4) impulsividade
(5) comportamentos autodestrutivos
(6) instabilidade afetiva
(7) sentimentos crônicos de vazio
Agora o critério (8), de acordo com o manual dos psiquiatras, o DSM, raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por exemplo, demonstrações frequentes de irritação, raiva constante, lutas corporais frequentes).
Quem tem essa raiva sabe que ela não é qualquer raiva. É uma raiva descontrolada, desproporcional, desconfortável, enlouquecedora e dolorosa. Um vulcão que, de repente, entra em erupção espalhando lava quente e altamente corrosiva dentro de nós e sobre todos os que estiverem ao nosso redor. De certo modo, essa raiva também pode ser comparada a uma força da natureza.
Eu não consigo me lembrar o exato dia em que esse sentimento apareceu, acredito que desde que eu nasci, ou até mesmo antes disso, afinal a minha história sempre foi acompanhada de muita raiva, ódio e instabilidade no momento em que eu era apenas um sucessão de células se multiplicando dentro do útero materno. Compreensivo que a raiva praticamente tenha nascido incubada dentro de mim. Sempre ouvi histórias de quando eu era bebê do quanto eu chorava e gritava, eis mais uma prova da raiva começando a se manifestar de alguma forma. Mas deixando as interpretações analíticas de lado, vamos as consequências do que uma raiva tão profunda e primitiva causou a mim.
A situação que mais me incomoda e que eu ainda não consegui resolver e provavelmente eu já comentei antes é uma relação que eu mantive com algumas amigas há muitos anos atrás. Eu as conhecia desde a escola e as considerava mais do que amigas, eram como irmãs (olha o borderline aí) e eu acreditava que jamais conseguiria viver sem elas. O fato é que eu sobrevivi, e estou aqui escrevendo sobre isso. A outra realidade é que eu ainda mantenho uma ilusão de que um dia as coisas voltarão a ser exatamente como eram há seis anos atrás, antes de tudo acontecer e isso é uma mentira que tem de acabar na minha cabeça.
Naquela época, eu considerava a J. a minha cara metade em uma relação doentia aonde eu não sabia onde eu começava e ela terminava. Provavelmente, ela se sentia sufocada muitas vezes. Um dia, eu interpretei algo errado que ela nem tinha dito para mim e a briga começou. Depois disso, não nos falamos mais e eu decidi me afastar não apenas dela, mas de todas as amigas que tínhamos em comum (o pensamento tudo ou nada). Claro que isso não deu em nada e eu fiquei sozinha e todas defenderam a J (me senti rejeitada, abandonada). A raiva tomou conta de mim em segundos. Eu inflamei, peguei fogo. Eu queria matá-la. Queria feri-la, queria que ela sentisse toda a dor que eu estava sentindo. Ela estava me julgando sem saber o tamanho do meu sofrimento, sem saber o que eu realmente estava sentindo, sem ao menos me dar a chance de me defender. Eu comecei a ver a situação apenas por um lado só (borderline). E a partir daí o vulcão entrou em erupção. Quem estava ao meu redor nessa época sofreu horrores e eu sinto muito. De verdade. Eu gritava, eu me auto mutilava, eu maquinava alguma forma de fazê-la pagar pelo meu sofrimento, eu dedicava todo o meu tempo em persegui-la pela internet, cuidar de cada passo da vida dela a fim de saber o que eu poderia fazer para acabar com ela ou, pelo menos, torcer pelo sofrimento dela. Eu não conseguia pensar em nada mais além de raiva e vingança. Mas, quando passava, e eu voltava ao estado normal, me arrependia, não via o menor sentindo, só queria viver a minha vida e esquecer tudo aquilo, afinal, talvez não eramos para sermos amigas, não tínhamos mais nada a ver. No dia seguinte, a raiva tomava conta de mim, e a saga começava outra vez. Um verdadeiro martírio. Muitas vezes que pensei sobre o assunto a raiva me controla e eu quebrava coisas e tinha vontade de arrancar meus cabelos, bater minha cabeça na parede por causa da sensação de injustiça e da forma como eu escolhi simplesmente me isolar e ninguém - nenhuma das amigas - ter vindo perguntar porque eu tinha escolhido isso (de novo a sensação de rejeição).
Coisas como: problemas de outras pessoas, injustiças, multidões, gatilhos emocionais ou uma simples ida ao mercado podem ocasionar momentos de muita raiva e estresse, culminando, muitas vezes em situações vexatórias e explosivas onde depois tudo o que sobra é culpa e vergonha. A raiva pode chegar ao seu extremo quando acontecem os episódio de dissociação. Faço e digo coisas que eu não lembro, chegando a ser abusiva verbalmente, emocionalmente, e as vezes, fisicamente. É como se outra pessoa tomasse conta de mim, e, assim como em um acesso de raiva, tudo que sobra é culpa, vergonha, e nesse caso, o vazio.
Mas a terapia comportamental dialética tem mudado isso. Não gosto de fazer propaganda de nada, e muito menos gosto de grupos. Passei a desgostar de fazer parte de grupos devido a uma última experiência traumática, isso não quer dizer que eu, um dia, não considere participar de outros grupos novamente, mas, por enquanto não. Porém, a terapia dialética realmente tem mudado a minha vida para a melhor, mesmo quando eu estou em crise e isso é incrível. Eu tenho conseguido administrar melhor não apenas a raiva, mas todo e qualquer sentimento exagerado. Eu ainda não consegui superar a situação com as minhas amigas acima. Ainda penso sobre isso, ainda é algo obsessivo na minha mente, e sei que há um longo e penoso caminho pela frente, mas, diferente de antes, eu estou empenhada em melhorar porque estou vendo resultados reais. Se antes a raiva explodia como um vulcão, agora ela tem parecido mais como um mar revolto. Passa. E passa rápido. É por isso, meus amigos, que escrevo minhas experiências antigas e atuais, para que vocês também percebam que há solução. Não percam a esperança jamais. Se eu tivesse perdido, não teria comprovado a eficácia dessa terapia e não estaria tendo momentos de alegria. Acreditem em si mesmos e lutem. Sei o quanto é difícil, eu vivi no inferno assim como vocês e saber que é possível sair dele agora é uma sensação indescritível.
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