Sintomas e tratamentos
Comportamento auto destrutivo
Vamos para outro critério para Transtorno da Personalidade Borderline, segundo o DSM-IV (a "Bíblia dos Psiquiatras"): (5) recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante. Já falamos da (4) a impulsividade e (1) instabilidade afetiva.
É tudo muito rápido. Os segundos mais agoniantes da sua vida. E não, eu não estou exagerando, eu gostaria de estar, mas não estou. A angústia se mistura a mil e um sentimentos de uma vez só, sem te avisar e sem te a dar a menor chance de se defender ou tomar alguma atitude para que o que está por vir não aconteça. A avalanche. A tsunami. Invadindo cada célula do seu corpo. Aterrorizando sua imaginação. Matando toda a esperança de estabilidade emocional. Já era. Você se tornou um corpo possuído por emoções instáveis. Agora é só descida.
-Tenta respirar. Lembra daquele exercício? Que exercício? Que se dane, não quero respirar! Eu não consigo! Isso não funciona. Eu preciso de alguém. Eu preciso de ajuda. Meu deus, o que eu sou? Quem eu sou? Eu não sou nada. Eu sou ninguém. Respirar? Respira fundo. Um. Dois. Três. Não funcionou. Viu? Eu te disse? (Gargalhada mental) Tá rindo de quê, idiota? De você. Você nem sabe quem é. Nunca soube. É por isso que cortar a garganta de um lado a outro é sua melhor opção... [Tomar o remédio agora é a minha melhor opção, essa foi a minha escolha, e foi mesmo!] ---> Isso é um fragmento do que eu me lembro de uma crise. Foi a primeira vez que eu lembrei de alguma coisa.
Isso acontece fora de crise também. Eu tenho uma imaginação muito ativa. O problema disso é o "muito". Quando a minha mente não está bem, a imaginação não é de grande ajuda e é aí que o critério número cinco entrou. Agora eu sofro menos com 'gatilhos emocionais' (situações atuais que recordam situações passadas, daí a gente sente como se ainda estivesse no passado e age como se estivesse emocionalmente no passado, mas tá no presente, deu nó na cabeça?) por causa dos tratamentos que faço, mas antigamente eram todos os dias. Qualquer coisa podia ser um gatilho e quando você puxa o gatilho de uma arma o que ela faz? Dispara. Eu disparo uma série de comportamentos chamados auto destrutivos: suicida e automutilante. Eu ainda sofro com pensamentos e impulsos de suicídio. E automutilação? Muito, muito menos. Comparado com antes, é quase zero. Eu não sinto mais vontade de me machucar. Eu consigo me equilibrar mais. A chave aqui é a palavra equilíbrio. Mas chegaremos nela mais para frente...
Porque uma pessoa precisa se mutilar? Porque a dor que ela sente é enorme. Você deve ter lido em alguma outra postagem o tamanho da minha dor. Ela parece bem real e ela é para o meu inconsciente e o que eu tiver de fazer para aquilo parar eu vou fazer porque é essa a mensagem que está vindo do meu inconsciente (que, para quem não sabe, manda em 95% de nós). Se eu ainda não aprendi outro mecanismo para lidar com aquela dor, eu vou usar o único que eu tenho: sentir uma dor física. É provado cientificamente, que, pessoas se automutilam porque sentir dor física é melhor do que a dor emocional, além de que através do corte são liberados hormônios que aliviam a dor emocional! Ou seja, por mais bizarro que você ache, a dor física alivia a dor emocional. Além disso, como já falei anteriormente, a falta de um senso de identidade faz com que alguns de nós precisam ver que são reais (meu caso), o corte nos faz sentir vivos, reais, existentes. Quando eu via o sangue, eu via que estava viva, e ficava feliz por estar viva, por existir. Bizarro, eu sei, mas o inconsciente age por caminhos estranhos.
E o comportamento suicida? É pra chamar atenção? Não. Esse é um genuíno pedido de ajuda. O borderline é emocionalmente instável, de repente tudo fica muito confuso, tudo o que a pessoa quer é que tudo acabe, rápido. Qual é a única alternativa que você conhece? Mas isso passa em minutos. Já pensou tentar acabar com a própria vida em um minuto e se arrepender amargamente no outro? Eu sei o que é isso. Eu sempre passei muito perto. Todas as minhas tentativas fracassaram. Ou alguém apareceu, ou aconteceu alguma coisa, mas eu até senti o hálito frio da morte na minha orelha - e me arrependi amargamente uns dois minutos depois. O que eu estava fazendo? E esse círculo ia e voltava, ia e voltava. Repetidamente. Ainda continua. Com maior espaço de tempo. A morte ficou mais distante. Esses dias até senti a mão dela no meu ombro... Porque? Porque é difícil suportar tantas emoções dentro de você, mudanças bruscas de humor sem previsão, alucinações, falta de identidade, problemas de autoimagem, choros, além de julgamentos, preconceitos, cobranças, medo, culpa, vergonha, estigma social, exclusão, pressão, medicações diárias, tratamentos que não deram certo e tantas outras coisas que eu deixei de citar. Mas não me entenda mal, não estou contando isso porque quero a sua pena, estou contando isso porque quero que você compreenda como é ter um transtorno mental. Se você tiver um transtorno mental, quero que se sinta a vontade para ser você mesmo. Se você não tiver, quero que você compreenda que não há o que ter medo. Só temos medo do que não compreendemos.
Uma atualização: esse critério foi o que me levou ao meu psiquiatria atual e à terapia comportamental dialética. Eu acreditava que não havia salvação para mim, mas não é verdade. O comportamento suicida e automutilante pode ser mudado. Pode ser substituído por novos comportamentos mais eficientes. Dá trabalho, mas vale a pena. Há recaídas, e isso só quer dizer que você está tentando e está conseguindo. Não desistam de si mesmos, nunca, nem quando alguém for uma pedra no seu caminho (desvie da pedra e continue, ok?)
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