Excesso de autocobrança
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Excesso de autocobrança



Por alguns motivos (depois eu explico), tive que contar minha história novamente, com detalhes. Abrir novamente algumas gavetas antigas trouxe a tona sentimentos empoeirados que eu não sabia se me causariam gatilhos emocionais. Para a minha surpresa, a maioria das coisas não me causou nada além de um leve desconforto que, provavelmente, qualquer pessoa que não tenha a sensibilidade tão aflorada quanto a minha, sinta. Mas houve algo que me deixou moderadamente desconfortável: o excesso de cobranças que eu mesma que impus. 

A autocobrança foi um comportamento aprendido desde muito pequena. Era proibido errar e, como todo mundo sabe, erros acontecem, crianças erram o tempo todo - e tem que ser assim, porque é errando que a gente aprende. Ter inserida muito cedo a lei de "não errar" fez com eu me preocupasse "demais" em encontrar a "perfeição", em agradar a qualquer custo, e ao menor sinal de erro, o alerta de estresse sempre estava pronto para ser disparado: lutar, fugir ou paralisar? Eu sempre paralisei. Apesar de sentir demasiadamente, minhas emoções queriam mesmo era lutar, chorar, gritar, se revoltar, mas tudo o que eu podia fazer era suportar todo o abuso emocional calada (chorando, na verdade), e, no final das contas, continuar me lembrando de "não errar". Missão impossível! Como não errar se eu não tinha noção do que era certo ou errado? Se eu não poderia experimentar? Se eu não poderia viver? Se a minha vida era pautada no rígido limite do outro... como eu descobriria quem eu era? Foi assim que eu considero que eu me perdi. E perceber isso me doeu profundamente. Dói porque o tempo não volta. Não volta, mas agora eu sei, eu compreendo, e agora eu posso fazer algo com tudo isso. Eu ainda não sei como é, nem quando vai ser, mas sei que vai. Sei que isso não será algo que ficará escondido, esperando para me capturar em alguma armadilha emocional... Não mais. 

Eu chorei e sorri. Chorei porque poderia ter sido diferente, e porque eu realmente me cobro demais. Eu saí dessa conversa (onde tive que contar minha história novamente) me perguntando se eu havia falado algo errado, se eu havia me comportado direito, se as pessoas gostaram de mim, se realmente foi real ou se eles iriam esquecer de mim, eu não confio em mim mesma, eu não sou capaz de aceitar elogios e sempre fico pensando que as pessoas me odiaram no fim da conversa. Eu sinto muito por mim. Eu gostaria de pensar diferente. Mas aí, eu sorri. Eu lembrei do meu psiquiatra dizendo: "Você se cobra demais, vamos baixar isso, não precisa disso, permita-se errar", e, pela primeira vez, eu sinto que ele tem toda a razão. Eu não sou mais criança, nem adolescente, e ninguém mais responde por mim além de eu mesma, não precisa mais disso, eu posso errar, eu posso decepcionar, porque eu não nasci para atender às expectativas das pessoas (e eu estou chorando para escrever isso porque essa minha parte está tão condicionada que não consegue aceitar, nem acreditar!). Eu posso ser eu mesma. Eu mereço ser feliz. Eu mereço tentar. O que eu estou fazendo aqui é salvando minha vida. Todos os dias. Essa é a única cobrança que eu tenho que me fazer agora: Salve sua vida, mulher. O resto você vai aprender. Deixe que as pessoas te ajudem e se ajude. Permita-se errar, mas não muito. E se errar, aprenda. Apenas viva!



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