por Fernanda A. Linhares Guimarães
Pertence à mulher uma das tarefas mais importantes de uma sociedade: gerar outro ser humano.
Segundo a Psicanálise, essa é, porém, apenas uma parte do dever materno, que se inicia na gestação do bebê e se estende à segunda infância da criança - aproximadamente aos 5 anos de idade.
Winnicott (1896–1971) conceitua como maternagem os cuidados dispensados ao bebê pela mãe ou cuidadora deste. Segundo o autor, o bebê não existe sozinho – ele é parte de uma relação, que, além de abrangê-lo, engloba sua cuidadora. Esta deverá criar um ambiente facilitador para que o desenvolvimento psíquico da criança seja saudável.
Todos os fatos que ocorrem no período de vida intra-uterina e também o trauma do nascimento são registrados inconscientemente pelo sujeito que está sendo gerado.
Por exemplo, o feto pode vir a sofrer frente à angústia ou ansiedade da mãe e tentar, como mecanismo de defesa, diminuir esse sofrimento através de movimentações hiperativas de seu corpo ou de diminuição de suas atividades motoras. Essas vivências intra-uterinas influenciarão sua personalidade e seus comportamentos na vida pós-natal.
Após o nascimento, a relação mãe-bebê é de dependência absoluta: o recém-nascido precisa de sua cuidadora para alimentá-lo, para vesti-lo, para nomear suas sensações e os objetos de seu mundo externo. Esse vínculo forma o alicerce para o seu desenvolvimento psíquico, fazendo com que seu frágil ego seja amparado pelo ego materno e se fortaleça.
É a partir da organização psíquica desenvolvida nessa relação, que o bebê conquistará sua capacidade de se relacionar.
A qualidade do amor materno – e não a quantidade – determinará, portanto, a qualidade de todas as relações do indivíduo quando ele se desligar da mãe: amor em excesso e possessivo pode gerar dependência, insegurança e incapacidade desse sujeito em lidar com frustrações.
Negligência e rejeição podem, por outro lado, provocar sérias angústias, necessidade exagerada de amor e sentimentos de agressividade, culpa e depressão.
Segundo Neumann, “Existem mães cuja genuína capacidade de amar é subdesenvolvida, atrofiada ou envenenada e que, como compensação de sua anti-realização, arremessam-se sobre seus filhos não para lhes dar excesso de amor, mas para preencher seu próprio vazio através do filho”.
A mãe que vê o filho como única saída para dar vazão a seus sentimentos pode, por exemplo, mimá-lo excessivamente e, muitas vezes, impedir seu crescimento, por medo de que se torne independente dela.
Em contrapartida, a gravidez na adolescência, a gravidez indesejada ou a visão de que os cuidados com os filhos são uma árdua tarefa e cerceiam sua liberdade são algumas das possíveis razões para a negligência materna.
A maternidade responsável, portanto, deve proporcionar ao feto e, posteriormente, ao bebê um vínculo afetivo sadio, garantindo a satisfação de suas necessidades fisiológicas e afetivas.
Deve também evoluir para um processo gradual de independência emocional, que gerará confiança na criança e facilitará seu crescimento psíquico, para que possa, posteriormente, suportar-se sozinha e evoluir para a maturidade e autonomia.
(fonte)
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