O propranolol é um remédio que, teoricamente, só é vendido com prescrição médica. Pode causar efeitos colaterais como insuficiência cardíaca e respiratória. Quando ingerida, a droga reduz a frequência cardíaca, inibindo suores e tremores.
Na rede de relacionamentos Orkut, uma comunidade chamada “A solução: propranolol” reúne 108 integrantes e convida: “Você é tímido, e o propranolol serviu para você não ficar um pimentão, suar, tremer e gaguejar? Junte-se a nós!”.
A estudante de psicologia Daniela, 22, conta que resolveu experimentar o remédio para se sentir mais segura na hora de apresentar o seminário de sua iniciação científica. Tomou um comprimido emprestado da amiga uma hora antes da apresentação.
“Uns amigos falaram que deixava mais calmo na hora de falar, que ficava ‘bem de boa'”, conta a aluna de uma universidade particular de Santa Catarina. Daniela afirma que não sentiu nada de diferente. “Eu estava tão concentrada que nem senti nenhum efeito.”
A aluna de biologia Adriane, 21, da mesma universidade, tomou duas vezes: quando apresentou o trabalho de iniciação científica e quando defendeu seu trabalho de conclusão de curso.
Dividiu a caixa do remédio com outros seis amigos. Não pagaram mais do que R$ 5 pela embalagem e também não precisaram de receita. “Foi fácil, só chegar à farmácia e pedir”, afirma.
A reportagem da Folha conseguiu comprar a versão de 40 mg do medicamento por R$ 7,04 em uma farmácia no centro de São Paulo, sem precisar mostrar receita.
MULETA
O psiquiatra Ivan Mario Braun, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP, afirma que o propranolol não é a solução para combater a ansiedade.
“Ele é uma muleta: pode bloquear tremores, sensações de mal-estar, mas não age na sensação subjetiva da ansiedade, no nervosismo.”
O psicólogo gaúcho Ricardo, 37, diz que tomou a medicação receitada por um colega médico. “Diminuiu a transpiração, mas não mexeu no emocional”, afirma. Ele usou a droga para enfrentar a banca do mestrado.
Segundo Marcus Bolívar Malachias, presidente do departamento de hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o medicamento pode ser perigoso e só deve ser vendido com prescrição.
“Quanto maior a dosagem, maior o risco. O remédio diminui o ritmo dos batimentos e pode potencializar algum problema cardíaco preexistente.” Pacientes asmáticos, afirma Malachias, podem ter crises muito fortes sob o efeito desse medicamento.
O psiquiatra Arthur Guerra, do Grupo de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da USP, alerta para o problema do abuso.
“Esse remédio é usado de forma pontual, com a ideia infundada de que pode resolver a ansiedade. E pode tornar as pessoas habituadas a usá-lo como se realmente tivesse esse efeito”, diz.
Fonte:
https://farmaceuticort.wordpress.com