Nos últimos anos a palavra Depressão tornou-se comum na linguagem do dia-a-dia. Ouvimos falar frequentemente de pessoas que têm ou tiveram "uma Depressão". Sabemos que se relaciona com tristeza. É, no entanto, menos comum encararmos a Depressão como uma doença que mata. E a verdade é que, em determinados casos, mata mesmo.
Os principais sinais e sintomas da Depressão são o humor triste e a perda acentuada de interesse e prazer pelas actividades do dia-a-dia. A estes se juntam as alterações do sono e apetite, a fadiga, os problemas de concentração, de memória, dificuldade em tomar decisões e a agitação ou lentificação psicomotora. Para além disso, podem suceder sentimentos de desesperança, de desvalorização pessoal e de culpa excessiva. Em casos mais graves surgem pensamentos sobre morte, ideias suicidas e plano suicida ou mesmo tentativa de suicídio.
Existe portanto uma associação forte entre Depressão e Suicídio. Estima-se que 70 a 80% dos suicídios estão relacionados com a presença da Depressão. A partir destes dados, emerge um raciocínio elementar: se queremos prevenir o suicídio, é indispensável tratar eficazmente a Depressão. A presença de um transtorno mental revela-se, de facto, como o mais importante factor de risco no suicídio. Mas não é o único. As causas que explicam o fenómeno são complexas e há um relativo consenso na sociedade científica de que o fenómeno resulta da interacção entre condições biológicas, psicológicas e sociais.
O perfil típico do suicida é o de um homem, com mais de 45 anos, divorciado ou viúvo, desempregado, com relacionamentos interpessoais conflituosos, com doença física e/ou com doença mental (ex: depressão, abuso de álcool), que seja essencialmente uma pessoa isolada e que a família não se preocupe com ele. No entanto, nos últimos anos, os suicídios têm aumentado de forma preocupante entre os adolescentes.
Centrando agora o problema na nossa região, os Açores têm, parece-me, um assinalável historial de melancolia, talvez provocado pelo isolamento das ilhas e pela sensação de esmagamento que esse isolamento sempre provocou. O que sucedeu a Antero de Quental em 1891 é revelador dessa disposição típica do povo açoriano.
No caso da Graciosa, como sabem, ocorreram na ilha ao longo dos últimos anos, até ao presente, um número francamente alarmante de suicídios para a dimensão da nossa população. Tendo em conta a taxa de suicídio em Portugal, que é de cerca de 10 casos por cada 100mil habitantes, haver, como houve, vários suicídios no mesmo ano na Graciosa é muito anormal.
Para combater este problema de saúde pública torna-se indispensável acabar com o estigma que recai sobre aqueles que sofrem de perturbações mentais. No dia em que as mentalidades mudarem e as doenças mentais forem encaradas e respeitadas tal como o são as doenças físicas, acredito que muita coisa vai mudar e que a recuperação dos doentes será facilitada. Por outro lado, as pessoas que estão em dificuldades devem saber que não estão sozinhas e que existe ajuda especializada para o seu sofrimento.
O desafio central será aumentar o conhecimento do fenómeno por parte de profissionais de saúde, da comunidade escolar, dos serviços sociais e dos cidadãos em geral, para que todos em conjunto possam ter um papel na prevenção do suicídio. Só assim será possível identificar quem está em risco e encaminhar as pessoas para os serviços de saúde de modo a receberem tratamento eficaz.
por: Marco MartinsFonte: http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/graciosa/?k=Depressao-e-Suicidio.rtp&post=36824
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